29/06/18 15h44

Hidrogel promete mudar forma de limpar e cicatrizar feridas

Pesquisas com biopolímeros prometem colocar Araraquara no cenário nacional da inovação científica

A Cidade On

No meio acadêmico é comum ouvir que a ciência é a mãe das inovações. De fato, a maioria das grandes criações surge depois de muito estudo e trabalho de pesquisa. Alguns projetos levam anos, outros até décadas para sair dos laboratórios e transformar, de alguma forma, a sociedade. O professor doutor Hernane Barud, do programa de Biotecnologia da Universidade de Araraquara (Uniara), é um ferrenho defensor da ciência como meio para mudar o mundo. Ele aposta em um importante trabalho de pesquisa com biopolímeros para aplicação na área médica, alimentícia e optoeletrônica.

A grosso modo, os biopolímeros são como o plástico ou até mesmo o papel, mas produzidos de forma natural. A diferença é que o plástico comum é derivado do petróleo. Os biopolímeros que Barud estuda são produzidos por bactérias. "Elas se alimentam de fonte de carbono e secretam a chamada biocelulose. É a mesma do papel, só que tem propriedades fantásticas para o tratamento de feridas, de queimaduras, úlcera de pressão, entre outras", detalha Barud.

O mais recente trabalho de Hernane Barud é a criação de um hidrogel feito também com os biopolímeros. Ele tem as mesmas propriedades curativas de duas pesquisas anteriores e promete ser ainda mais eficiente. "Depois de um certo tempo que você aplica o hidrogel ele forma uma fina película na pele. Além de ajudar na cicatrização ela tem outra função, a chamada função debridante, quer dizer, ele limpa a ferida antes de começar a curar", detalha.

O estudo que tem dados mantidos em sigilo - é desenvolvido em colaboração com uma empresa de Londrina e o projeto é financiado pelo Governo Federal através da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação (Embrapi). Participa também da criação do hidrogel o pesquisador da Ufscar de São Carlos, Valderlei Salvador Bagnato. O gel deve chegar ao mercado em até dois anos, acredita Barud. Ele vem na sequencia de outros ótimos resultados adquiridos por Hernane Barud.

Quando era pesquisador do Instituto de Química, da Unesp de Araraquara, orientado pelo também pesquisador Sidnei Ribeiro, o docente ajudou a desenvolver o curativo feito com biocelulose que hoje é produzido e comercializado em larga escala pela empresa Seven Biotecnologia, de Londrina, no Paraná.

O material é feito em laboratório pela bactéria Acetobacter xylinum. Depois de pronto, ele passa por secagem e processamento até ficar parecido com uma folha de papel vegetal, quase totalmente transparente. A aplicação do curativo não exige muita técnica. Ele é afixado na pele, sobre a ferida, e hidratado com soro fisiológico. Assim, fica umedecido, adere ao ferimento e suas propriedades ajudam no fechamento das feridas.

Há um ano o professor Hernane Barud conseguiu melhorar ainda mais o curativo ao criar uma biocelulose porosa. "Essa versão deixa a ferida respirar, serve para aquelas feridas que precisam ser drenadas", conta.

Os curativos servem para pequenos ralados do dia a dia, mas são muito mais eficientes nas chamadas feridas complexas, que não fecham e fazem os pacientes sofrerem por vários meses ou até anos. "Esse produto tem a capacidade de induzir a cicatrização. Pelo que a gente tem avaliado, no mercado existem muitos curativos de alto valor agregado só que nenhum deles têm essa capacidade de induzir a cicatrização", explica a pesquisadora Andréia Bagliotti Meneguin, que também atua na equipe do professor Barud.

O curativo feito de biocelulose custa metade do que é cobrado pela solução importada. "Nós também temos tabela comparando o curativo de biocelulose com o tratamento convencional. Cai entre 30 e 40% o custo do tratamento já que a troca do curativo não é diária. Ele é eficiente até sete dias depois de ser aplicado na pele", detalha o docente.

Impressão 3D

Os biopolímeros são como máquinas de produzir possibilidades. De acordo com Hernane Barud, uma nova linha de pesquisa também começa a surgir usando o biopolímero como matéria prima para imprimir peças em 3D.

A Universidade de Araraquara, a Uniara, já adquiriu uma impressora para que o professor inicie a pesquisa. "A impressão 3D pode ser considerada a quarta revolução industrial. A ideia mais promissora é no sentido de conseguir produzir órgãos artificiais", finaliza.