20/08/08 14h07

Hotéis dos EUA preparam expansão no Brasil

Valor Econômico – 20/08/2008

Por seis anos, a principal função de Paula Muniz enquanto diretora de vendas do hotel Hilton, em São Paulo, foi atrair hóspedes e eventos suficientes para alcançar metas de receita. Um objetivo particularmente difícil, já que o empreendimento foi aberto em 2002, no auge de uma profunda crise de superoferta que corroeu os preços das diárias e que, só agora, a indústria considera superada. "Pois é, hoje que está bem mais fácil vender o hotel, troquei de área e vou ter um trabalho mais desafiador ainda", brinca a executiva. Há um mês, a Hilton criou uma diretoria inédita para desenvolver novos hotéis na América do Sul e elegeu Paula para o cargo. Agora, ao invés de vender a Hilton para os hóspedes, ela venderá a empresa para investidores. O fato de a cadeia sediada em Beverly Hills, na Califórnia, montar uma estrutura para se desenvolver no Brasil e países vizinhos não é banal. Não, pelo menos, quando as outras grandes redes mundiais sediadas nos Estados Unidos, como Marriott, Hyatt e Starwood estão fazendo o mesmo. Menos trivial ainda quando esse movimento põe fim a anos de inércia dessas empresas na região. Recentemente, o grupo imobiliário WTorre disse que estuda fazer um hotel num complexo que está sendo construído para abrigar um shopping e um edifício, em sociedade com o grupo Jereissati, em São Paulo. As marcas planejadas para o hotel são The Ritz Carlton, Four Seasons, St. Regis (da Starwood) e So (da Accor). Há anos, as grandes redes se voltaram para os mercados emergentes. A explicação para o interesse mais recente no Brasil está na estabilidade alcançada pelo país nos últimos anos. O alcance do grau de investimento, neste ano, deve fazer com que mais investidores internacionais procurem o país e desenvolvam projetos com as cadeias - raramente, elas investem diretamente nos hotéis. Um relatório sobre o Brasil divulgado há cerca de duas semanas pela Jones Lang la Salle Hotels aponta que "a oportunidade mais significativa é a de desenvolver hotéis de padrão superior (mid-scale) nas cidades secundárias de todo o país". A consultoria também ressalta que os grupos americanos, e mais a britânica InterContinental (IHG), estão "timidamente representados" e que há espaço para que mais hotéis se filiem às redes. Embora sobrem pontos de vista otimistas sobre o mercado hoteleiro, também há muitos alertas. Para Diogo Canteras, sócio da consultoria multinacional HVS, as grandes cidades brasileiras ainda sofrem os efeitos da superoferta de hotéis que ocorreu no início do milênio. A previsão dele é que, em três ou quatro anos, novos hotéis serão economicamente viáveis. "Hoje, de dez projetos que analisamos, sete são reprovados", diz Canteras. "A maior prova de que ainda não há espaço para mais hotéis é que os empreendimentos existentes estão desvalorizados: comprar um apartamento existente custa menos da metade do que construir um novo."