10/03/14 17h00

Impulso de R$ 1,4 bi à cana

Pacote de incentivos do BNDES/Finep, Paiss Agrícola mira emprojetos comalto risco tecnológico e rápido retorno

Brasil Econômico

Fazer uma revolução nas lavouras de cana-de-açúcar, elevando a taxa de crescimento a 3%ao ano, patamar dos anos 70, e garantir a expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste brasileiro, por meio do melhoramento genético: esses são os principais desafios que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES), junto coma Financiadora de Estudos e Projetos(Finep),querem atingir por meio do Paiss Agrícola. Lançado no último dia 17, o pacote de incentivos, que destina R$ 1,48 bilhão a projetos voltados especialmente ao setor sucroalcooleiro, abrange também programas de estímulos a culturas que se combinam com a cana, como a de milho.

Ao contrário da primeira etapa do Paiss Agrícola, focada no incentivo à tecnologia industrial do campo, a segunda fase do programa visa a financiar projetos audaciosos, com altos riscos e que deem rápidos retornos de produtividade, garantindo, assim, que a cana-de-açúcar supere as tímidas taxas de crescimento anuais que vem tendo nas últimas décadas, abaixo de 1%. O que, para o gerente do Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Artur Yabe, pode ser conseguido, especialmente, por meio dos transgênicos.

“A transgenia tem uma capacidade de revolucionar o plantio e a colheita, assim como foi feito com a soja e o milho. No entanto, a cana ainda não conta com uma variedade genética comercial. Queremos acelerar o desenvolvimento da transgenia na cana, dando condições de a planta resistir à seca, o que dificilmente se conseguiria pelo melhoramento genético clássico. É assim que buscamos possibilitar que o Brasil crie uma nova fronteira agrícola no Centro-Oeste, o que geraria uma revolução produtiva”, avalia Yabe.

Segundo o gerente do BNDES, a previsão é que os incentivos gerados pelo Paiss Agrícola — que prevê apoiar projetos no período de 2014 a 2018 — comecem a influenciar positivamente o nível de produtividade da cana-de-açúcar em menos de cinco anos. “Agente sentia que faltava um impulso aos empresários, já que os incentivos do mercado externo, com baixos retornos financeiros à cultura, não vêm se mostrando suficientes para que haja um estímulo à inovação agrícola das lavouras”,completa Yabe.

Os tímidos investimentos em tecnologia agrícola do setor são reflexos também do alto grau de endividamento dos empresários. Segundo a presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, depois de amargarem três quebras seguidas da safra, os produtores começaram a dar sinais de restabelecimento no ano passado, o que impactou no nível de produção da safra 2012/2013, que chegou à marca de 588 mil toneladas.

“Nos sete anos anteriores, os produtores investiram na expansão de canaviais para novas fronteiras de produção e os empresários colocaram em pé mais de 100 usinas. Logo, o setor estava endividado e as quebras das safras acabaram gerando efeitos negativos na capacidade de investimentos. Isso tudo levou à redução dos canaviais e da capacidade de desenvolver os tratos culturais previstos. Muitos projetos tiveram de ser postergados e só no último ano o setor começa a mostrar uma certa recuperação”, analisa Farina, que diz que os empresários têm comemorado o mais novo pacote de estímulos à inovação.

“A nova linha de fomento não resolve os problemas do setor, mas é um importante degrau para o ganho de produtividade nos próximos anos, porque combina crédito de longo prazo e juros compatíveis com os riscos”, destaca.