29/04/10 11h10

Indústria acelera recomposição de mão de obra e produção em março

Valor Econômico

A recomposição da mão de obra perdida e da produção desativada durante a crise mundial se acelerou. Depois de registrar crescimento marginal nos primeiros dois meses do ano, a produção da indústria deu um salto de 23,8 pontos percentuais entre fevereiro e março. Em relação ao emprego, todos os setores criaram postos de trabalho. Os resultados de produção e emprego na indústria nos primeiros três meses do ano foram os melhores desde o terceiro trimestre de 2004, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O indicador de produção industrial calculado CNI alcançou 62,9% no mês passado, em franca aceleração se comparado aos 49,2% e 50,8% apurados em janeiro e fevereiro, respectivamente. Segundo a CNI, os empresários estão otimistas quanto a sustentação do crescimento da produção e da contratação de mão de obra. Mesmo pontos negativos, como a redução do saldo comercial devido ao desembarque de mercadorias mais acelerado que os embarques, não assustam os industriais. De acordo com a CNI, os empresários estão confiantes com a recuperação da demanda externa.

A forte aceleração da indústria, no entanto, não ocorre sem problemas. A preocupação com a falta de trabalhador qualificado aumentou pelo quarto trimestre consecutivo, passando de 20,3%, entre as principais queixas da indústria, no primeiro trimestre de 2009, para 23,7%, entre janeiro e março deste ano. "O problema da mão de obra qualificada já entrou na agenda da indústria, e é um problema que vai se intensificar ao longo do ano, conforme o crescimento da indústria e da economia como um todo se consolida", afirma Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. "Isso fica mais claro na construção civil, mas passa por quase todos os setores. Não estamos acostumados a crescer de maneira tão forte e disseminada", avalia.

Para o economista, a qualificação da mão de obra será tema determinante para assegurar crescimento elevado no Produto Interno Bruto (PIB), "da ordem de 6% ou 7%", além de 2010, ano em que, de acordo com Almeida, "uma alta forte está garantida". A demanda superior à oferta de mão de obra qualificada tem impacto nos custos das empresas, que passam a oferecer salários maiores. Reportagem do Valor publicada no dia 19 mostrou que o custo da mão de obra atingiu, nas primeiras semanas de abril, o mais alto patamar desde julho de 2004.