16/11/11 15h53

Indústria de alta tecnologia destoa e cresce 3,8%, bem acima da média

Valor Econômico

O setor de alta intensidade tecnológica descolou-se do pífio resultado do resto da indústria este ano e cresceu 3,8% na comparação com o período janeiro-setembro de 2010. Na média, a indústria produziu 1% mais, enquanto os segmentos de baixa tecnologia, onde há forte concorrência de produtos chineses, perderam produção em 2011 e registraram queda de 0,7% na mesma comparação, segundo levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Mesmo o crescimento da alta tecnologia, contudo, não anima o Iedi. Olhando para o período de janeiro a setembro de 2011, o desempenho da média da indústria de transformação e de cada um dos segmentos por intensidade tecnológica foi em geral o pior para esse período nos últimos oito anos, com exceção de 2003 e 2009, marcados por pesadas crises econômicas. A forte concorrência do importado, a desaceleração doméstica e a dificuldade para exportar de alguns setores são os fatores que explicam o pífio resultado da indústria neste ano, diz Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.


"É um resultado ruim, mostrando uma fraqueza generalizada, algo preocupante para 'tempos de paz'", diz Almeida, referindo tanto ao baixo crescimento de 1% da indústria geral como aos desempenhos por intensidade tecnológica. Segundo ele, apesar da piora do cenário global em 2011, a situação neste ano não tem sido nem de longe tão crítica quanto foi em 2003 - quando a inflação estava acima de dois dígitos e os juros chegaram a 26,5% ao ano - ou em 2009, quando a crise global provocou forte desaceleração da economia brasileira, que encolheu 0,6%.

Nos setores de baixa intensidade tecnológica, chama a atenção o tombo de 10,1% da produção de têxteis, couros e calçados. Almeida lembra que são os segmentos que mais apanham da concorrência externa, sofrendo com a falta de competitividade. "Os números parecem quase uma condenação a esses segmentos", diz Almeida.

Para ele, parte da ascendente classe C deu prioridade à compra de bens duráveis, como eletroeletrônicos, o que fez as vendas de produtos alimentícios e bebidas perderem um pouco do dinamismo. Para alguns analistas, a inflação um pouco mais alta também teve alguma influência, por afetar o rendimento real.

O setor de alta intensidade tecnológica subiu bem acima da média, mas menos que os 6,6% do mesmo período de 2010 ou os 15,4% de 2004. O crescimento um pouco mais forte se explica pelo desempenho de alguns setores específicos, como o aeronáutico e aeroespacial, cuja produção subiu 8,4% nos nove primeiros meses deste ano. Segundo Almeida, isso se deve à recuperação da Embraer, que sofreu mais em 2010, por causa do efeito defasado da crise de 2008 sobre as encomendas.

Também ajuda o segmento de alta tecnologia o desempenho razoável do setor de equipamentos de rádio, TV e comunicação, que cresceu 5,5% no acumulado do ano. Para Almeida, o aumento do consumo de duráveis por parte da classe C explica esse movimento. Esses dois setores ajudam o segmento de alta intensidade tecnológica a ter uma expansão mais razoável, apesar de o setor de material de escritório e informática ter caído 3,8% no período em função da concorrência do importado.

O impacto da concorrência externa também causou estragos expressivos no segmento de média-alta tecnologia. A produção de máquinas e equipamentos elétricos caiu 1,4% de janeiro a setembro. "Aí há também um reflexo da dificuldade em exportar", diz Almeida. Segundo ele, nesse segmento, predominam os bens de capital, e o Brasil tem perdido espaço em mercados importantes, como a América do Sul, para produtos de outros países, como os chineses.

No segmento de média-alta intensidade tecnológica, quem também vai mal são os fabricantes de produtos químicos. A produção recuou 2,5% no acumulado do ano. "É mais um segmento em que predomina o efeito do aumento da concorrência do importado", afirma Almeida, segundo quem o "palco da disputa da nossa indústria entre o produto nacional e importado é na média-alta tecnologia." Ele vê aí algum efeito da perda de fôlego da economia, já que uma indústria mais fraca demanda menos produtos químicos.

Já no segmento de média-baixa tecnologia, é frustrante o comportamento do setor de borracha e produtos plásticos. De janeiro a setembro, a produção subiu apenas 0,2%. Ainda nesse segmento, a fabricação de produtos metálicos, onde se encontra o aço, cresceu apenas 1% no acumulado de 2011.

Nesse cenário complicado, Almeida acredita que o crescimento da indústria em 2011 deve ficar em 1,5%, "com sorte". No começo do ano, ele projetou alta de 4%. O efeito da deterioração do cenário externo, diz ele, só mais recentemente teve um impacto mais negativo sobre a economia brasileira, como mostrou a produção industrial de setembro. "Isso é preocupante porque, se o cenário externo continuar a piorar, já vai encontrar a indústria num momento delicado."