19/04/10 11h42

Indústria recupera margem de lucro mais lentamente

O Estado de S. Paulo

A indústria ainda é o setor de atividade que registra o maior atraso na recuperação das margens de lucro, enquanto o comércio tem o melhor desempenho. Pesquisa da Fundação de Desenvolvimento Administrativo (Fundap), vinculada à Secretaria de Gestão Pública do Governo do Estado de São Paulo, mostra que o ritmo de recuperação é díspar entre os setores. Excluída a Petrobras, a relação entre o lucro da atividade das empresas industriais e a receita líquida ainda é inferior ao padrão pré-crise: 13,3% no quarto trimestre de 2009 comparado com 16,4% do quarto trimestre de 2008. No comércio, a margem de lucro da atividade estava em 6,9% no fim do ano passado - mesmo patamar do ano anterior.

Para as empresas dependentes do mercado interno, a crise passou praticamente despercebida. Foi o caso da fabricante de bebidas AmBev. As vendas da empresa bateram recorde em 2009, favorecidas pela sustentação da renda da população e pelo clima mais quente, que estimula o consumo de cerveja. O Ebitda (geração de caixa) da empresa foi superior a R$ 10 bilhões (US$ 5,1 bilhões), 12,3% acima do ano anterior e superior à média de R$ 8,36 bilhões (US$ 4,2 bilhões) dos últimos cinco anos. Outro fator que contribuiu para o resultado foi a redução dos preços internacional das commodities provocada pela crise, que é matéria-prima dessa indústria.

Em outros segmentos, como na construção civil, o impacto foi severo no início da turbulência, mas a situação está completamente revertida. O presidente da construtora Gafisa, Wilson Amaral, conta que a crise pegou o setor "alavancado", após captações no mercado de ações para financiar o crescimento expressivo dos últimos anos. Para o executivo, a intervenção do governo federal foi "crucial" para salvar o setor da crise. O governo ofereceu crédito barato as construtoras e criou o programa Minha Casa, Minha, que estimulou a demanda.

Mas nem todos os setores tiveram um desempenho tão positivo. Empresas exportadoras ainda atravessam uma situação complicada. A fabricante de aviões Embraer não recuperou o ritmo de antes da crise. Os dados da Fundap mostram que a margem do lucro da atividade do setor aeronáutico como um todo estava em apenas 2,2% no quarto trimestre do ano passado, muito abaixo dos 18,8% do quarto trimestre de 2008.

Companhias que enfrentam a concorrência dos importados também foram afetadas pela crise, apesar da robustez do mercado interno. O diretor-presidente da Vulcabrás, Milton Cardoso, conta que o ano de 2009 foi bastante complicado. "As importações começaram a entrar como um jorro", disse. Ele afirma que, mesmo no auge da crise, o consumo interno de calçados no País crescia entre 2% e 3%. Mesmo assim, a empresa perdia participação de mercado e suas vendas caíam. A margem de lucro (lucro líquido sobre receita líquida) da Vulcabrás caiu de 12,4% em 2008 para 6,6% em 2009. Em outubro do ano passado, o governo brasileiro estabeleceu uma medida antidumping (concorrências desleal) contra a importação de sapatos chineses. E os resultados da empresa começaram a melhorar. As vendas voltaram a subir, o nível de ocupação da capacidade instalada das fábricas está hoje entre 80% e 85% e a margem de lucro atingiu 13% no último trimestre do ano passado.