31/03/10 11h25

Inpe investe na área de fusão nuclear

Valor Econômico

As pesquisas brasileiras na área de fusão nuclear ganharão um novo impulso com a construção do Laboratório Nacional de Fusão Nuclear (LNF), dentro de uma área cedida à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em Cachoeira Paulista (SP). Para o novo laboratório, também será transferido o atual grupo de pesquisa do Inpe, que trabalha com o Experimento Tokamak Esférico (ETE), uma máquina de pesquisa em fusão nuclear controlada, que segue o conceito desenvolvido na Rússia de confinamento magnético de plasma.

Em operação há dez anos, o tokamak do Inpe, utilizado nas pesquisas da física de plasmas de altas temperaturas para fusão, também será transferido para o LNF, que será criado oficialmente até meados deste ano, segundo informou o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, Marcos Nogueira Martins. "O orçamento do Inpe na área de fusão termonuclear já foi transferido para a CNEN e um dos projetos que estamos trabalhando é o da modernização do tokamak", disse.

O projeto, de acordo com Martins, receberá uma verba de R$ 1 milhão (US$ 556 mil) para melhorias na instrumentação de monitoração do equipamento e também do banco de capacitores (baterias), para que a descarga elétrica do plasma seja mais eficiente e duradoura. O Laboratório Associado de Plasma (LAP) do Inpe foi um dos primeiros a desenvolver um tokamak esférico no mundo.

A construção do novo laboratório, de acordo com o coordenador das atividades de fusão do Inpe, Gerson Otto Ludwig, será feita com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que aprovou uma verba de R$ 1 milhão (US$ 556 mil) para o projeto de engenharia e terraplenagem. "A previsão é que o laboratório entre em funcionamento em dois ou três anos, mas suas atividades serão iniciadas antes em uma sede provisória no Inpe", segundo o pesquisador.

A criação do novo Laboratório de Fusão Nuclear, segundo o diretor da CNEN, permitirá ainda que o Brasil crie uma massa crítica nessa área, uma vez que os atuais grupos de pesquisa estão pulverizados e espalhados em diversas instituições e universidades do país "Além dos servidores do Inpe, o LNF também vai abrigar os pesquisadores de outras instituições e os novos profissionais que serão contratados por meio de concurso público."

Com uma estrutura mais organizada, segundo Martins, o Brasil poderá se capacitar de maneira mais coerente e ágil e participar de projetos internacionais do porte do International Thermonuclear Experimental Reactor (Iter, na sigla em inglês), o maior tokamak do mundo, que está sendo construído por meio de uma cooperação internacional envolvendo vários países. "O Brasil e a Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom) firmaram, em novembro de 2009, um convênio para que pesquisadores brasileiros possam ter algum tipo de colaboração no Iter ou em outros tokamaks, como o Jet, da Inglaterra", disse Edson Del Bosco, membro do Comitê Técnico-Científico da Rede Nacional de Fusão.

O coordenador das atividades de Fusão do Inpe, Gerson Ludwig, disse que o novo Laboratório da CNEN também poderá abrigar experimentos e pesquisas inovadoras na área de fusão nuclear. "Um dos projetos que estou trabalhando, por exemplo, é o de um reator de fusão para a geração de radioisótopos, como o molibidênio 99, usado em medicina nuclear (exames de diagnóstico de câncer e outras doenças) e atualmente em falta no mercado mundial.