10/05/10 11h22

Investidor mira setor farmacêutico

O Estado de S. Paulo

A indústria farmacêutica no Brasil entrou no radar de empresas e investidores nacionais e internacionais que buscam expandir seus negócios. A recente onda de fusões e aquisições no setor aponta para a consolidação de um mercado cujo faturamento triplicou na última década, impulsionado pela modernização tecnológica, a chegada de novos players e o aumento de renda da população.

Tamanha atratividade valorizou a cotação das boas empresas, elevando o preço de marcas e ativos. Operações de grande porte, ofertas agressivas de compra e o excelente desempenho dos laboratórios farmacêuticos e grandes redes de farmácia têm chamado a atenção dos agentes econômicos e do público para o mercado de medicamentos. A razão evidente dessa intensa movimentação é o amadurecimento do capitalismo no País, as oportunidades criadas pela globalização comercial e financeira e o potencial de crescimento da economia brasileira, que passa por uma estabilidade nunca experimentada pelo Brasil.

Outros fatores, menos visíveis, também contribuíram para fortalecer a indústria e o varejo farmacêuticos e despertar o notável interesse atual por empreendimentos no segmento. Os avanços na área regulatória estão entre eles. Nos anos de 1980 e 1990, deficiências nas normas industriais e sanitárias e indefinições de ordem política inibiam o desenvolvimento setorial. No início dos anos 2000, a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o lançamento dos medicamentos genéricos foram marcos da transformação. O trabalho da Anvisa propiciou a melhoria das práticas de teste, produção e comercialização que agregaram mais segurança e qualidade aos medicamentos, criando um pilar essencial para o desenvolvimento do setor farmacêutico.

A introdução dos genéricos abriu caminho para que empresas, até então sem perspectivas para progredir, recebessem os estímulos necessários para evoluir em termos industriais e gerenciais, passando a fabricar produtos de última geração, de acordo com especificações as mais rigorosas. Os genéricos são fruto do discernimento do Brasil de subscrever o TRIPS (acordo internacional de proteção da propriedade intelectual) e editar a Lei de Patentes. Sem essa iniciativa, os brasileiros hoje estariam privados de medicamentos modernos e mais baratos e o País não teria acumulado o know-how que o transformou em importante polo farmacêutico.

Com o solo fértil para investimentos no setor, composto por ingredientes como segurança regulatória, jurídica e legislativa, firmou-se aqui e lá fora a convicção de que o País tinha ingressado numa nova e duradoura fase de estabilidade econômica e institucional. Se o PIB crescer a taxas de apenas 1% ou 2%, o País tem potencial de incorporar de três a quatro milhões de consumidores a cada ano. E, num contexto de demanda reprimida de bens e serviços na área da saúde, as perspectivas dos laboratórios farmacêuticos são ainda melhores, pois ampliar o acesso da população aos medicamentos continua sendo um grande desafio.

Mas, para alcançar mais rapidamente essa meta, algumas ações desburocratizantes e indutoras do acesso precisam ser adotadas. No que diz respeito ao ambiente de negócios, um entrave importante para o desenvolvimento do setor são as ineficiências no processo de aprovação de novos produtos, que inibem projetos e decisões e retardam os investimentos das empresas. O aperfeiçoamento dos mecanismos de compras públicas também é desejável.

Em termos de oferta, a experiência internacional indica pelo menos duas iniciativas viáveis e eficazes para a expansão do consumo de medicamentos. Uma delas é a redução da elevadíssima carga tributária que incide sobre o produto, correspondente a 33,9% do preço final. Outra é a regulamentação do reembolso das despesas com remédios pelos planos de saúde. Com uma população de 190 milhões de habitantes e um imenso mercado ainda por explorar, o Brasil oferece um amplo leque de oportunidades para a indústria farmacêutica.