24/11/10 11h56

Investimento cresce e cobre rombo nas contas externas

Folha de S. Paulo

Os investimentos estrangeiros em empresas e no mercado financeiro bateram novos recordes em outubro e já superam as previsões do Banco Central para 2010. Segundo dados da autoridade monetária, o Brasil recebeu nos últimos três meses quase metade do investimento direto em empresas previsto para o ano. Somente no mês passado, houve uma entrada de US$ 6,8 bilhões no setor produtivo, maior valor desde dezembro de 2008 e melhor resultado para meses de outubro da série iniciada em 1947. O investimento no ano já supera os US$ 30 bilhões esperados pelo BC.

Essa estimativa foi divulgada pelo BC em setembro. Antes, a instituição esperava um resultado positivo de US$ 38 bilhões, mas mudou a previsão depois que vários investimentos foram adiados por conta da crise externa. Os números de outubro devem levar a uma nova revisão. Para novembro, a instituição espera um resultado de US$ 2,8 bilhões, mais próximo da média do ano. Os responsáveis pela recuperação nos últimos meses foram os setores de mineração, química e metalurgia.

Em relação aos investimentos no mercado financeiro, as aplicações de estrangeiros em ações e renda fixa chegaram a US$ 48,5 bilhões no acumulado até outubro, superando o recorde verificado em todo o ano passado. O destaque do mês passado foram as aplicações em ADRs (recibos de ações brasileiras negociados no exterior), movimento ainda relacionado à operação de capitalização da Petrobras. Dados parciais para novembro mostram uma desaceleração nesses números.

Os investimentos em títulos no país estão negativos pela primeira vez em quatro meses. O BC atribui o resultado ao aumento na alíquota de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) anunciado pelo governo em outubro para esse tipo de aplicação. Marcio Cardoso, diretor da Corretora Título, diz que é normal que haja uma acomodação nos investimentos após dois meses seguidos de resultados muito fortes. Ele afirma, no entanto, que o país continua atrativo para o capital externo e que deve haver uma retomada assim que houver melhora nas condições do mercado.

Os investimentos estrangeiros recorde em outubro foram mais que suficientes para financiar o deficit de US$ 3,7 bilhões nas transações do Brasil com o exterior no mês passado. O deficit acumulado em 12 meses equivale a 2,43% do PIB, maior patamar desde o fim do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. O BC prevê um deficit de US$ 4,4 bilhões em novembro, devido ao aumento nas remessas de lucros e nas importações neste fim de ano. No acumulado de 2010, o deficit nas transações com o exterior cresceu 157% em relação ao mesmo período de 2009, para US$ 38,8 bilhões.