05/05/08 15h14

Investimento de montadoras em P&D gera reação em cadeia

Folha de S. Paulo - 05/05/2008

Os investimentos das montadoras em pesquisa e desenvolvimento no Brasil têm gerado uma reação em cadeia que começa a espalhar efeitos benéficos a outras áreas da indústria automotiva. É o que constatou uma pesquisa feita pelo Gempi (Grupo de Estudos de Empresas e Inovação), do Instituto de Geociências, da Unicamp, que acaba de ser concluída. "Mais do que constatar o crescimento da atividade tecnológica na indústria de autopeças, buscamos descobrir as implicações para empresas localizadas no Brasil dos maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento", diz Ruy Quadros, coordenador do Gempi. Os pesquisadores foram a campo visitar 14 indústrias brasileiras e multinacionais, conhecidas pela capacidade de inovar. A constatação é que há dois tipos de empresas no país: as que fazem pesquisa básica na matriz e adaptam e desenvolvem os produtos no Brasil e as que desenvolvem tecnologias originais no país. "A maioria das empresas nacionais trabalha com transferência de tecnologia do exterior", diz Rubia Quintão, pesquisadora do Gempi que fez o estudo. "Mas há um pequeno grupo que desenvolve itens novos". Além disso, diz ela, algumas multinacionais de autopeças fizeram com que o Brasil se tornasse um centro global de competência tecnológica, fornecendo produtos desenvolvidos aqui a outras subsidiárias ao redor do mundo. É o caso da filial brasileira Bosch, criadora do motor "flexfuel". "Investimos entre 3% e 4% em pesquisa por ano, mas o objetivo é gerar produtos que tenham interesse do mercado", diz Fábio Ferreira, gerente de desenvolvimento de produto da Bosch. "No caso dos motores "flexfuel", foram oito anos de gaveta até que as montadoras decidissem lançá-lo, mas sabíamos que era um produto de sucesso desde o início." No caso da Bosch, o departamento de pesquisa dobrou de tamanho. O cenário se repete em muitas fabricantes de autopeças e a estimativa da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade é que faltem 17.000 engenheiros para essa área. "A tendência de maior investimento em pesquisa e desenvolvimento nas autopeças veio para ficar porque os produtos estão cada vez mais complexos", diz Paulo Butori, presidente do Sindipeças, sindicato dos fabricantes de autopeças. Para Quadros, os investimentos em pesquisa tendem a fazer do Brasil um mercado consumidor cada vez mais sofisticado e distante dos produtos indianos e chineses.