03/01/11 14h23

Investimento perde fôlego, mas ainda deve ter alta forte

Valor Econômico

Depois de uma alta superior a 20% em 2010, o investimento deve avançar a um ritmo menos exuberante neste ano. Os mais otimistas apostam em expansão na casa de 10%, amparada nas perspectivas favoráveis para os setores ligados a commodities, ao mercado interno e à infraestrutura. Há fatores, porém, que podem levar a uma perda de fôlego mais forte em 2011, como as dificuldades enfrentadas pela parcela da indústria mais exposta à concorrência externa (em um quadro de câmbio valorizado) e o provável aumento dos juros.

Além disso, é possível que parte das empresas tenha antecipado inversões no ano passado, para aproveitar as condições favoráveis do Plano de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, que deverá se encerrar em março deste ano. Já as medidas para estimular o financiamento de longo prazo, anunciadas em dezembro, são bem vistas pelos analistas, mas devem ter impacto em prazo mais longo.

O economista Fernando Sarti, da Unicamp, considera factível um crescimento em 2011 na casa de dois dígitos da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos calculada dentro do Produto Interno Bruto). O investimento em infraestrutura, acredita ele, será bastante expressivo. De janeiro a outubro de 2010, as consultas ao BNDES por empresas de infraestrutura subiram 60% em relação ao mesmo período de 2009, atingindo R$ 83,7 bilhões (US$ 49,2 bilhões). É uma alta bem acima da média de todos os segmentos, de 21,3%. "Outro ponto é que a Petrobras e a Vale deverão investir pesado", diz Sarti.

O chefe da área de pesquisa econômica do BNDES, Fernando Puga, cita as boas perspectivas para os investimentos em infraestrutura, além de ressaltar a expectativa favorável para o setor de petróleo e gás. Segundo levantamento do banco, as inversões no segmento vão totalizar R$ 340 bilhões (US$ 200 bilhões) de 2010 a 2013, 112,9% a mais que nos quatro anos anteriores. Uma dúvida é saber como vai reagir a indústria de manufaturados, que sofre com a concorrência dos produtos estrangeiros e enfrenta dificuldades para exportar, dada a fraca demanda global por esses bens.

As consultas ao BNDES da indústria mecânica e da de material de transporte não indicam um quadro animador. De janeiro a outubro de 2010, as consultas da indústria mecânica recuaram 21,8% em relação a igual período de 2009, para R$ 5,6 bilhões (US$ 3,3 bilhões). As de material de transporte, que inclui veículos, tiveram alta modesta, de 3,1%, para R$ 18,7 bilhões (US$ 11 bilhões).

Puga acha possível que, no caso da indústria mecânica, tenha havido antecipação do investimento, com as empresas aproveitando as taxas bastante atraentes do PSI. De janeiro a 8 de dezembro, os desembolsos do PSI totalizaram R$ 80,5 bilhões (US$ 47,4 bilhões). Sarti acredita que a indústria deve elevar investimentos em 2011, mesmo sofrendo com a concorrência externa facilitada pelo dólar barato.

Um segmento que mostra um desempenho mais preocupante é o de metalurgia, onde estão as empresas de siderurgia. As consultas caíram 64% de janeiro a outubro de 2010, para R$ 4,6 bilhões (US$ 2,7 bilhões). "Esse é um setor que temos olhado com mais atenção", diz Puga, para quem o excesso de oferta de aço no mundo tende a afetar os planos de investimento das empresas exportadoras. Ele observa, porém, que o segmento investiu muito nos últimos anos, elevando a capacidade produtiva. Mesmo com alguns problemas localizados, Puga se diz otimista quanto às perspectivas da FBCF em 2011, acreditando numa alta a um ritmo de 10%.