12/12/12 15h44

Investimentos no interior

Editorial - O Estado de São Paulo

Os programas de interiorização do desenvolvimento do Estado de São Paulo adotados antes da década de 1980 tiveram pouco êxito, em razão das dificuldades para a circulação de mercadorias, das deficiências de telecomunicações e da escassa oferta de mão de obra qualificada em cidades do interior para atender à demanda, principalmente da indústria. Esta situação mudou radicalmente nos últimos anos. Segundo a Pesquisa de Investimentos Anunciados, realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do total de investimentos por município, a maior fatia (R$ 27,246 bilhões, correspondendo a 64,1% do total) vai para cidades do interior, sendo os 35,9% restantes (R$ 15,297 bilhões) direcionados para a capital e os 38 municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Observa-se que, enquanto as condições de infraestrutura melhoraram no interior, a RMSP passou a apresentar deseconomias para as empresas, em razão do alto valor dos terrenos, das restrições ambientais, do congestionamento do trânsito e de outros problemas típicos das grandes metrópoles.

Os dados da Seade indicam que, nos últimos anos, as cidades do interior passaram a atrair mais indústrias, recebendo 67% do total de investimentos do setor em 2010, proporção que se elevou para 71,5% em 2011. Um número cada vez maior de indústrias se instala nas proximidades dos eixos rodoviários de boa qualidade, o que facilita tanto a distribuição de seus produtos pelo resto do País como a exportação e importação de matérias-primas e produtos intermediários, com acesso ao Porto de Santos e ao Aeroporto de Viracopos, já privatizado e que deverá ser ampliado. Essas vantagens podem se acentuar com a conclusão do Rodoanel, desafogando o tráfego no entorno da RMSP.

Como levantamentos anteriores já evidenciaram, o Município de São Paulo vem se firmando cada vez mais como uma metrópole de serviços. A pesquisa da Seade vem confirmar, por sinal, que os grandes investimentos na RMSP estão concentrados em infraestrutura e no setor imobiliário. Como observa Haroldo da Gama Torres, diretor da Fundação Seade, não está ocorrendo uma migração em massa de indústrias da Grande São Paulo para o interior. Na maior parte das vezes, são os novos investimentos industriais que se dirigem ao interior.

É preciso também notar que está em curso o que Gama Torres chama de "desconcentração concentrada". Grande parte dos novos investimentos está em um raio de 100 km a 150 km da capital, nas regiões de influência dos municípios de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos. Isso é normal, segundo observadores, uma vez que a expansão industrial tende a ser concêntrica tanto porque as fábricas procuram ficar próximas de seus fornecedores como do maior mercado do País, que é o da RMSP.

Os polos industriais nas cercanias da capital estão localizados em municípios que contam com universidades e institutos de ensino técnico superior capazes de fornecer profissionais qualificados, mas algumas empresas ainda têm dificuldades de recrutamento de pessoal em nível gerencial, o que, atualmente, não é apenas um problema localizado, mas de dimensão nacional. Seja como for, o crescimento do emprego pelo setor industrial nas cidades do interior paulista (5,7% de 2005 a 2010) foi superior ao da Grande São Paulo (3,7% no período).

Paulínia, a 119 km da capital, onde está localizada uma grande refinaria da Petrobrás (Replan), é o melhor exemplo das transformações em curso. Com nítida vocação industrial, a cidade, com 85 mil habitantes em 2011, apresenta um crescimento da população estimado em 10%, com a atração de novos trabalhadores. Mesmo assim, como se queixam os empresários, há falta de mão de obra.

Se essa evolução concorre para aliviar as pressões sociais na Grande São Paulo, em termos de habitação, educação e saúde, essas demandas se acentuam em cidades próximas do interior, que as prefeituras às vezes são incapazes de atender, exigindo mais atenção por parte dos governos estadual e federal.