12/08/20 11h07

IPÊ propõe modelos de exploração econômica de reservas legais

Pesquisador do instituto fala, ainda, sobre o trabalho de restauração da mata atlântica na região do Pontal do Paranapanema e a colaboração comunitária

O Imparcial

As áreas que precisam ser reflorestadas na região do Pontal do Paranapanema, chamadas passivos ambientais, são cerca de 70 mil hectares (o dobro da área do Parque Estadual do Morro do Diabo), afirma o pesquisador do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e coordenador do projeto Corredores da Mata Atlântica, Laury Cullen Junior. Segundo ele, o Código Florestal Brasileiro obriga todos os proprietários de terra terem uma parte da propriedade, na região, por volta de 20%, coberta com vegetação nativa, na forma de RL (reserva legal). Contudo, “os órgãos falam o que tem que fazer, mas não como fazer”, diz.

A partir disso, o IPÊ criou a publicação: "Um Pontal bom para todos - modelos para usos econômicos de reservas legais e áreas de preservação permanente", no qual, à luz do Código Florestal, propõem-se formas de retorno econômico das RLs, o que Laury chama de floresta multifuncional. “Em curto e médio prazo, o proprietário paga o investimento feito em leis ambientais”, ressalta o pesquisador.

Para se ter ideia, o material, que pode ser baixado gratuitamente, propõe modelos dinâmicos e adaptáveis, como o plantio de 50% de espécies nativas e 50% de mogno-africano, ou 50% nativa e 50% de eucalipto, ou, ainda, 50% nativa, 25% de eucalipto e 25% de mogno-africano, cada qual com as especificidades de arranjo na terra. Estes são três exemplos dos diversos que a publicação oferece, todos com grande embasamento em pesquisas científicas de renomados institutos e universidades. “A ideia é mastigar aos proprietários as possibilidades de renda com as reservas legais”, aponta Laury.

"Um dos principais desafios nesta área é a falta de conhecimento científico sobre agrossilvicultura e restauração ecológica, com possibilidade de exploração econômica pelo proprietário rural, tanto no aspecto ambiental como de retorno econômico. Se bem aproveitadas com florestas multifuncionais e bons arranjos produtivos, estas áreas estariam servindo melhor à sociedade brasileira, contribuindo com produtos florestais madeireiros e não madeireiros, além de proteger a biodiversidade e ofertar importantes serviços ecossistêmicos. É emergencial um avanço nessa agenda de restauração, rompendo a imobilidade gerada pela falta de clareza nas regras de aproveitamento econômico dessas áreas e de modelos produtivos à luz da nova Lei Florestal", completa Laury. Corredores ecológicos

Partindo para outra ideia, não mais com viés econômico, mas estritamente ambiental, Laury fala dos trabalhos que o IPÊ tem realizado no Pontal a respeito da ligação dos maiores fragmentos florestais da região, especialmente os corredores ecológicos, que fazem a ligação entre o Parque Estadual do Morro do Diabo e a Estação Ecológica do Mico-leão-preto.

Nos últimos 20 anos, 1,3 mil hectares foram reflorestados na região, com plantio de cerca de 3 milhões de árvores. No entanto, o que ainda precisa ser reflorestado no Pontal é quase 60 vezes maior. De forma a estabelecer prioridades neste trabalho é que os pesquisadores do IPÊ criaram o Mapa dos Sonhos (com base no déficit revelado no CAR [Cadastro Ambiental Rural]), que aponta as APPs (áreas de preservação permanente) e RLs propostas para o extremo oeste do Estado.

“O Mapa dos Sonhos é considerado uma excelente estratégia para estimular a compreensão da interdependência entre corredores ecológicos, legislação florestal, conservação da biodiversidade, serviços ecossistêmicos e a viabilidade econômica dos empreendimentos rurais da região do Pontal”, descreve a publicação do instituto.

Para que este processo de reflorestamento ocorra, os pesquisadores contam com um “tripé”: o IPÊ, com a governança e captação de recursos; os grandes proprietários, com a cessão das terras de forma a cumprir leis ambientais; e os pequenos agricultores, com serviços de plantio das florestas ou produção de mudas – atualmente o IPÊ tem oito viveiros comunitários na região, que produzem 1 milhão de mudas nativas por ano. “Onde sempre houve conflito – referência à histórica luta pela terra no Pontal - há harmonia pela preservação da vida”, destaca Laury.

SERVIÇO

O download da publicação "Um Pontal bom para todos - modelos para usos econômicos de reservas legais e áreas de preservação permanente" está disponível neste endereço eletrônico: bit.ly/IPE-serie-tecnica-2.