21/12/12 16h22

Itu busca ser um dos maiores polos tecnológicos do Brasil

Info Corporate

Com a chegada da Lenovo e da Foxconn, a cidade do interior de São Paulo com mania de grandeza quer se tornar um dos principais polos tecnológicos do país. Quem sabe o maior?

Uma generosa porção de filé à parmegiana, acompanhado de batatas fritas e arroz, foi servida para a comitiva da Foxconn em uma de suas visitas oficiais a Itu.
O bife de 48 centímetros do restaurante Bar do Alemão combinava com as dimensões dos negócios tratados à mesa. De um lado, representantes da cidade paulista que se orgulha da fama de capital mundial do exagero. Do outro, os executivos da maior fabricante de computadores e componentes eletrônicos do mundo, prestes a investir 1 bilhão de reais em uma nova fábrica no Brasil. Entre eles, enormes travessas de comida e uma pergunta: por que Itu?

Foxconn Mercado
A cidade soube usar argumentos convincentes. Em setembro, após dois anos de buscas e negociações com diferentes municípios, a Foxconn anunciou sua decisão. A capital dos superlativos, que tem como símbolo um megaorelhão de sete metros de altura, receberia a nona* fábrica da Foxconn no país. O local escolhido é um terreno de 1,5 milhão de metros quadrados às margens da SP-075, conhecida como Rodovia do Açúcar. É nessa mesma estrada que outra gigante da tecnologia se prepara para inaugurar suas novas instalações.

A chinesa Lenovo, segunda maior fabricante de computadores do mundo, investiu 30 milhões de dólares em uma fábrica e um centro de distribuição que começam a funcionar neste mês. Além dessas, três empresas sul-coreanas, cujos nomes são mantidos em sigilo, estudam abrir unidades na cidade. Itu mostrou que tem muito mais a oferecer do que um bom jantar. “Encontramos na cidade mão de obra qualificada, boa localização e logística”, disse a INFO Dan Stone, presidente da Lenovo Brasil.

A 103 quilômetros de São Paulo, o município está perto o suficiente do maior centro comercial do país, mas ainda não sofreu a especulação imobiliária das áreas mais próximas à capital. “Essa região tem sido muito procurada pelas empresas. Oferece qualidade de vida a um custo de aquisições menor”, diz Luciano Almeida, presidente da Investe São Paulo, agência do governo estadual criada há três anos para ajudar investidores na busca por um município. Itu está próxima de polos já consolidados, como Campinas e Sorocaba, centros de pesquisa e desenvolvimento.

Pela estrada SP-075, a Lenovo chega a essas duas cidades e a três importantes rodovias: Castelo Branco, Anhanguera e Bandeirantes. Para quem vem de longe, o aeroporto de Viracopos fica a cerca de 50 quilômetros. O fácil acesso é crucial para os planos dos chineses. A nova planta de 325 mil metros quadrados é a espinha dorsal de um ambicioso projeto de crescimento revelado em setembro, quando a Lenovo adquiriu a brasileira CCE, por 300 milhões de reais. “Essa é a fábrica mais avançada e com a maior variedade de produtos que temos. Ela é parte central da estratégia para chegar à liderança do mercado no Brasil", afirma Stone. Inicialmente, a empresa produzirá notebooks, ultrabooks e desktops, mas deve expandir seu portfólio de produtos.

Outlet de iPhones?

Conhecida por produzir gadgets para a Apple e gigantes como Dell, HP e Sony, a Foxconn também tem planos que combinam com a mania de grandeza de Itu. A taiwanesa instalada em 14 países pretende construir na cidade interiorana a sua maior fábrica fora da China, em um prédio de aproximadamente 400 mil metros quadrados. Embora a empresa não divulgue detalhes, confirma que a nova unidade deve produzir componentes antes importados que serão distribuídos para suas outras unidades. “Uma das exigências era a de que a cidade escolhida ficasse próxima a Jundiaí, onde a Foxconn possui duas fábricas”, diz Almeida, da Investe São Paulo. Das cinco plantas da empresa no estado de São Paulo, quatro estão a até 50 quilômetros de Itu. Além de Jundiaí, há unidades em Sorocaba e Indaiatuba.

Os ituanos torcem para que se confirmem os planos da Foxconn de construir uma grande loja de fábrica na cidade. O outlet seria aberto ao consumidor final e venderia, a preços promocionais, produtos de todas as marcas para as quais a taiwanesa presta serviços. A empresa prefere não falar sobre o assunto. Mas INFO apurou que a ideia é usar um terreno de 260 mil metros quadrados, ao lado da fábrica, para o que já é chamado de o “maior outlet da Foxconn do mundo”, como não poderia deixar de ser. Haveria, inclusive, um estudo analisando a possibilidade de construir um hotel quatro estrelas próximo ao local, para receber turistas interessados em adquirir os gadgets.

Exageros à parte

A cidade de menos de 160 mil habitantes ganhou fama na década de 1960, graças ao programa Praça da Alegria, da extinta TV Tupi. O humorista ituano Francisco Flaviano de Almeida, o Simplício, interpretava um caipira que se vangloriava das grandezas de sua terra natal. Um dia, deixou escapar o nome da cidade e a piada pegou. Assim como o gigantismo, a recém-adquirida vocação tecnológica de Itu também surgiu por acaso.

“O plano de transformar a cidade em um grande polo tecnológico começou com a chegada das empresas”, afirma o coronel José Rubens Nunes Gomes, secretário municipal de desenvolvimento de Itu. Nos últimos oito anos, 12 novas indústrias se instalaram na cidade, como a Sakura Tech, de Singapura, que fornece peças e componentes para grandes fábricas. Além da localização, foram importantes os benefícios dados pela prefeitura e a oferta de mão de obra local.

Aprovada no ano passado, a nova lei de incentivos fiscais de Itu isenta investidores do pagamento de impostos, como o IPTU, por até 12 anos. A Lenovo já iniciou a contratação de quase 300 das 700 vagas de sua nova planta. A Foxconn terá até 13 mil funcionários. “Estamos nos reunindo com todas as faculdades e escolas técnicas para traçar um plano que atenda a demanda por mão de obra”, diz Juliana Augusta Verona, diretora da Fatec, uma das três instituições de ensino superior do município que possuem cursos nas áreas de engenharia e tecnologia. A cidade também oferece cursos técnicos em instituições como Etec, Sesi, Senai e Senac.

Inaugurada há três anos, a Fatec tem 700 alunos, mas pretende dobrar o número de vagas nos próximos dois anos. De olho nas oportunidades da Lenovo, a faculdade planeja incluir aulas gratuitas de mandarim em sua grade. Já o Centro Municipal de Línguas firmou acordo com as empresas para oferecer cursos de idiomas a turmas fechadas.

Pólo tecnológico

A maioria dos alunos da Fatec já trabalha na área tecnológica, tem mais de 25 anos e saiu da rede pública de ensino. É o caso de Ricardo Kato, mecânico de manutenção na Eucatex. Aos 35 anos, casado e pai de dois filhos, Kato enxergou no curso de mecatrônica industrial da instituição a chance de conseguir oportunidades. “Era o único entre os meus colegas sem formação, o que me prejudicaria se houvesse uma oportunidade para um cargo melhor”, afirma.

Além de aumentar a oferta de cursos, a cidade também tem planos de criar um centro de tecnologia. Parceria entre a prefeitura, o governo estadual, as empresas e as instituições de ensino, o centro ocupará, se sair do papel, um terreno de 200 mil metros quadrados.

“O centro é um embrião de parque tecnológico, onde as empresas poderão desenvolver pesquisas em parceria com faculdades como a Fatec”, afirma Luiz Carlos Quadrelli, secretário estadual de desenvolvimento econômico, ciência e tecnologia . “Há potencial para que a cidade se torne um polo tecnológico. O maior do país”, diz Almeida, da Investe São Paulo. Mais um exagero da grandiosa Itu, como o orelhão gigante na praça central? Pelo interesse crescente das empresas, parece que não.