19/06/18 12h05

Liquidez e preço aquecem fusões e aquisições

Valor Econômico

Apesar das incertezas políticas e econômicas, o mercado brasileiro de fusões e aquisições continua bem movimentado. Para o presidente da consultoria EY no Brasil, Luiz Sérgio Vieira, há três razões para isso: a combinação de dinheiro disponível com preços atrativos; empresas precisando vender ativos; e projetos de infraestrutura, em especial em petróleo e gás.

Primeiro, fundos de private equity estão muito capitalizados e buscam aquisições de oportunidade. Investidores estrangeiros e nacionais consideram que os ativos estão com preços atrativos.

O segundo fator é a onda de venda de ativos, que tem aumentado. Empresas que saíram machucadas de três anos de recessão, com balanços sob a pressão do endividamento, estão arrumando a casa para liberar capital para inovação.

Os desinvestimentos envolvem negócios que não são centrais para as empresas. "Isso está acontecendo também com multinacionais que investiram mal e estão se desfazendo de ativos", diz Vieira. Esse movimento ocorre principamente na indústria em geral e no setor de autopeças em particular.

A área de fusões e aquisições também está sendo movimentada por projetos de infraestrutura, sobretudo em petróleo e gás. "O Brasil continua atraindo capital externo de empresas que estavam fora, e vai gerar investimento", diz.

Os setores que mais têm atraído interesse são saúde, educação, tecnologia da informação e alimentos. No segmento de alimentos ainda não houve muitas transações anunciadas, mas há movimentos nos bastidores. No primeiro trimestre deste ano, segundo levantamento da KPMG, foram realizadas 234 operações de fusões e aquisições no país, um aumento de 16,4% na comparação com o mesmo período de 2017. Este foi o maior número dos últimos 20 anos, segundo a KPMG.

O presidente da EY Brasil evita mencionar cifras sobre quanto os negócios de fusões e aquisições podem movimentar neste ano. Segundo ele, algumas transações dependem de sinalizações do que virá depois da eleição presidencial.

"Uma coisa é o Brasil fazendo reformas, e outro sem reformas", afirma. "Se fizer as reformas da previdência, tributária, o controle fiscal, reforma política, o Brasil tem outro potencial de crescimento e o valor dos ativos também é outro", diz ele.

O executivo participou em Mônaco de evento organizado pela EY até domingo. Em debate, três temas foram destacados: novas tecnologias, globalização, aumento do populismo e envelhecimento das populações.

Para os negócios, essas mega-tendências empurram para a convergência das indústrias. O banco Goldman Sachs, por exemplo, tem hoje mais engenheiros do que o Facebook.

Vieira diz ter visto, nos últimos três anos no Brasil, empresários preocupados em sobreviver. O sentimento era de que a revolução industrial seria algo distante. Agora, o tema da inteligência artificial está muito presente na agenda dos CEOs, até para entender a que ponto seu negócio pode estar em risco.