26/04/10 11h00

Livro de receita sai do arroz com feijão e vendas crescem

Valor Econômico

O velho caderno de receitas escrito à mão por nossas mães e avós deu lugar a livros de gastronomia mais sofisticados e se tornou um segmento promissor para o mercado editorial. As vendas de títulos do universo da culinária cresceram até 30% no ano passado e já representam quase um terço do faturamento de algumas editoras. O interesse do mercado é motivado por fatores que esbarram em questões comportamentais como o crescente interesse dos homens pela gastronomia e a tendência de as pessoas cozinharem para os amigos em casa. Além disso, as publicações de gastronomia se mostraram um filão rentável, com preços médios entre R$ 89 (US$ 49) e R$ 150 (US$ 83).

O preço salgado das publicações não é à toa. Atualmente, um livro de receitas não pode apresentar apenas os ingredientes e o modo de preparo. Agora ele precisa ter fotos generosas dos pratos, contar a origem da receita ou ser assinado por uma celebridade. Essa combinação tem sido a fórmula do sucesso para muitas editoras.

Na Globo Livros, que tem em seu catálogo celebridades como o inglês Jamie Oliver e a apresentadora Ana Maria Braga, a área de culinária vem abocanhando uma participação cada vez maior. Em 2008, esse segmento equivalia a 9% do faturamento total. No ano passado, esse percentual pulou para 19% e hoje, os livros de gastronomia já representam 27% do faturamento da editora. Quem também comemora o bom desempenho é a Livraria Cultura, que registrou neste primeiro trimestre crescimento de 27% nas vendas dos livros de receita quando comparado ao mesmo período do ano passado. Como seu colega Lerner, o diretor-comercial da Cultura, Fábio Herz, também pilota um fogão. "Desde pequeno gosto de cozinhar. Agora, estou numa fase de receita de assados, antes era risoto", conta Herz.

Nas livrarias da rede Nobel, os livros de gastronomia fecharam o ano com alta de 30% nas vendas. O grupo conta ainda com o selo Marco Zero, cuja linha principal são os livros de gastronomia. "O público masculino é um dos que mais consomem artigos de gastronomia e não economiza", diz Sergio Benclowicz, presidente da Nobel. "Muitos livros de gastronomia têm um acabamento tão sofisticado que têm sido uma opção de presente", lembra Marcílio Pousada, presidente da Saraiva, onde as vendas dos livros de culinária tiveram aumento de cerca de 20% no ano passado.

A Reader's Digest, dona da revista Seleções, vendeu 100 mil livros do segmento nos últimos 12 meses, um aumento de 150% sobre o período imediatamente anterior, segundo Felipe Pinho, diretor de marketing da Reader's. Com o maior interesse das pessoas pelo mundo das panelas, a Ediouro voltou a apostar com mais força nos títulos gastronômicos e em 2008 adquiriu os direitos autorais dos ingleses Nigella Lawson e Gordon Ramsay, ambos celebridades do universo gastronômico. "No ano passado, lançamos três títulos na área. Este ano, serão seis", enumera Roberta Campassi, editora da Ediouro.

A editora Jaboticada também aposta em nomes de famosos para alavancar as vendas. A companhia lança este ano livros assinados por artistas como a global Carolina Ferraz. Com tantas celebridades mostrando seus dotes culinários, os livros mais em conta também fazem sucesso e geram bons retornos. No ano passado, a Melhoramentos vendeu 253 mil exemplares do Mini-Cozinha (publicação mais simples) e faturou R$ 282 mil (US$ 156,7 mil). Ao mesmo tempo, vendeu 3,5 mil títulos de obras mais sofisticadas, que gerou um faturamento de R$ 257 mil (US$ 142,8 mil).