19/04/10 11h36

Metas ambiciosas desafiam a capacidade de expansão do setor

Valor Econômico

Expansão não é exatamente uma palavra nova para as construtoras brasileiras. Em 2006, havia uma única empresa do setor, a Cyrela, com faturamento acima de R$ 1 bilhão (US$ 459,3 milhões). Apenas três anos depois, um grupo de oito companhias ultrapassou o almejado patamar, algumas delas com folga. Estimuladas por um lucro em média 85% mais alto no ano passado e pela confortável situação de caixa, proporcionada por uma bem sucedida rodada de captações em bolsa e de emissões de debêntures - que injetaram mais de R$ 10 bilhões (US$ 5,3 bilhões) no setor entre 2009 e este ano - as incorporadoras abandonaram o conservadorismo do começo de 2008. E capricharam nas novas estimativas de crescimento - a ponto de acender a luz amarela da viabilidade de execução das promessas. Empresas como MRV, PDG Realty e Rossi esperam uma evolução média de 50% nas vendas ou lançamentos este ano. Em alguns casos, como a Gafisa, o crescimento projetado de lançamentos chega a 95%.

Os números do primeiro trimestre, no entanto, mostram que atingir as metas propostas pode ser mais difícil do que as empresas imaginavam. Os resultados operacionais que começaram a ser apresentados ao mercado na semana passada apontam, de fato, um setor bastante aquecido. As que já divulgaram, Brookfield, CCDI, Agre e MRV aumentaram substancialmente as vendas em relação aos primeiros três meses de 2009 - quando a crise financeira ainda rondava o setor. Mas não a ponto de atingir projeções tão ousadas.

Quatro empresas - Cyrela, MRV, PDG e Gafisa - pretendem lançar somente este ano mais de R$ 4 bilhões (US$ 2,2 bilhões). Ainda que as construtoras tenham sido abastecidas por ofertas polpudas, que colocaram no caixa perto ou mais de R$ 1 bilhão (US$ 459,3 milhões), além da captação de dívida corporativa, as projeções para 2010 e 2011 - inevitavelmente - foram questionadas. O setor não estaria, mais uma vez, repetindo o excesso de entusiasmo do fim de 2007? E, principalmente, as companhias terão capacidade de transformar em tijolo o que até agora são números apenas números?

O ano passado, este e o próximo são de intensa atividade para o setor, já que toda a enxurrada de lançamentos feitos no IPO, o primeiro ciclo de crescimento do setor, está em plena construção agora. Os desafios passam pela produção, mais precisamente mão de obra e insumos. "O risco de execução é a maior preocupação dos investidores", afirma David Lawant, analista da Itaú Corretora. "Mas as empresas estão mais realistas do que em 2007 e esse ciclo será mais saudável." Vale ressaltar que, com exceção das empresas que chegaram perto da insolvência e foram incorporadas, as demais cumpriram as projeções de 2009.

É consenso entre analistas e as próprias empresas que demanda não é problema. Recursos para financiar o crescimento também não - embora o consumo de capital de giro prometa ser intenso nos próximos meses e um controle adequado do fluxo de caixa seja essencial. Crédito é farto tanto para as empresas quanto para os compradores. "A variável é a capacidade de construir, controlar os canteiros e garantir prazo e qualidade sem perder margem", diz Lawant.

O gargalo maior, é consenso entre todas as empresas, é a mão de obra. As companhias estão investindo em programas de trainees de engenheiros civis, plano de carreira para pedreiros e já começam a pensar em montar escolas de capacitação próprias. Os salários - para todos os níveis, sem exceção - nunca foram tão altos. Um pedreiro ganha R$ 2 mil (US$ 1,1 mil) mensais, um mestre de obras chega a ganhar R$ 8 mil (US$ 4,4 mil) e um engenheiro recém-formado, está com um salário na faixa de R$ 5 mil (US$ 2,8 mil).