27/02/18 12h07

Múltis brasileiras repatriam em janeiro US$ 1,6 bi de lucros obtidos no exterior

Valor Econômico

O crescimento sincronizado das principais economias do mundo aumentou o lucro repatriado pelas multinacionais brasileiras e estimulou, em janeiro, um ensaio de retomada do processo de internacionalização das empresas do país.

Estatísticas das contas externas divulgadas pelo Banco Central (BC) registram o ingresso no país em janeiro de US$ 1,642 bilhão em lucros e dividendos auferidos por companhias nacionais no exterior, mais de cinco vezes o valor contabilizado em igual mês do ano passado. Os dados parciais de fevereiro, que cobrem a até o dia 22, registram o ingresso de US$ 1,5 bilhão.

Empresas brasileiras remeteram ao exterior em janeiro US$ 2,476 bilhões em investimentos diretos, cifra bem mais alta do que a média mensal de US$ 522 milhões observada em 2017. Esse fluxo só foi possível porque, além do maior aquecimento da economia global, a retomada da atividade dentro do Brasil reforçou os lucros e o caixa das empresas nacionais.

Segundo o BC, os dados apurados em janeiro podem ser um sinal de que as empresas brasileiras retomaram o processo de internacionalização, que foi muito ativo até a crise financeira internacional. Naquele período, empresas brasileiras como a AmBev, Gerdau e JBS compraram ativos no exterior.

"Esse aumento ocorre depois de a economia mundial estar crescendo mais, com perspectivas favoráveis, e depois de a economia doméstica ter saído da recessão, o que aumenta a capacidade de ampliação de investimentos e processos de internacionalização", diz chefe do departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha.

Entre os investimentos brasileiros no exterior feitos por meio de participações no capital, os destaques foram os setores de coque, derivados em petróleo e biocombustíveis (US$ 994 milhões), bebidas (US$ 927 milhões), e serviços de tecnologia da informação (US$ 247 milhões). O setor de transporte remeteu US$ 449 milhões sob a forma de empréstimo intercompanhia. Os EUA foram o principal destino dos investimentos, com US$ 1,071 bilhão, seguidos pela Holanda, com US$ 995 milhões. O estoque de capital brasileiro no exterior, segundo Rocha, é de US$ 333 bilhões.

Ao mesmo tempo em que empresas brasileiras buscam oportunidades no exterior, os investimentos estrangeiros diretos voltam a surpreender o BC, com ingressos robustos, mostrando que os estrangeiros seguem mantendo forte interesse no Brasil. O fluxo do chamado Investimento Direto no País (IDP) chegaram a US$ 6,466 bilhões em janeiro, cifra 85% maior do que a estimativa do BC para o período (US$ 3,5 bilhões).

Segundo Rocha, os prognósticos da autoridade monetária foram superados porque, nos últimos dias de janeiro, ocorreram algumas grandes operações que, somadas, chegaram a US$ 2 bilhões. Além disso, o BC também registrou, na última semana de janeiro, um volume surpreendentemente alto de operações de investimentos diretos, o que mostra um alto grau de disseminação dessas operações.

Os setores com maiores ingressos de IDP, sob a forma de participação do capital, foram tecnologia da informação (US$ 582 milhões) e transportes (US$ 449 milhões). Nos empréstimos intercompanhia, o destaque foi o setor de óleo e gás, com ingresso de US$ 1,3 bilhão.

Em janeiro, o déficit em transações correntes foi de US$ 4,310 bilhões, menor para meses de janeiro desde 2009 (US$ 3,45 bilhões). E esse resultado foi menor que janeiro de 2017 (US$ 6,1 bilhões) e abaixo do que o BC tinha estimado para o mês, de US$ 5,3 bilhões. De acordo com Rocha, essa discrepância ocorreu porque a repatriação de lucros e dividendos por multinacionais brasileiras foi mais forte do que a antecipada.

Para fevereiro, o BC estima um superávit nas contas externas de US$ 300 milhões, também reflexo da entrada líquida de lucros e dividendos, e IDP de US$ 4,2 bilhões. Os investimentos em carteira apresentaram entrada líquida de US$ 11,851 bilhões em janeiro, após saída de US$ 3,392 bilhões em dezembro, mês sazonalmente desfavorável em função do fechamento de balanços de fundos de investimentos.

No mercado de renda fixa entraram liquidamente US$ 7,741 bilhões, após saída de US$ 6,146 bilhões em dezembro. Considerando apenas as negociações no país, o resultado foi positivo em US$ 5,968 bilhões no mês passado, após retirada de US$ 5,724 bilhões em dezembro.

Em 2018, o BC projeta aumento do déficit em relação a 2017, de US$ 9,762 bilhões para US$ 18,4 bilhões. E a razão para o aumento, segundo Rocha, é o maior dinamismo da atividade e parte dessa demanda é direcionada para bens e serviços no exterior.