05/05/09 10h17

Múltis do Brasil fazem recuo tático, mas mantêm planos

Valor Econômico - 05/05/2009

As multinacionais brasileiras promoveram um recuo "tático" nos investimentos no exterior por conta da crise, mas nada muda nos planos "estratégicos", garantiram empresários e especialistas ontem durante seminário do Conselho Britânico em São Paulo. Os dados do Banco Central apontam um tombo significativo nos investimentos brasileiros no exterior. O saldo ficou negativo em US$ 392 milhões no primeiro trimestre. De janeiro a março, as empresas investiram US$ 2,4 bilhões no exterior, um terço dos US$ 7,3 bilhões de igual período de 2008. E mantiveram a repatrição de capital em US$ 2,8 bilhões.

Conforme estimativa da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o saldo dos investimentos brasileiros no exterior deve ficar em US$ 5 bilhões em 2009, bem abaixo dos US$ 20,5 bilhões do ano passado. Os cálculos da Sobeet mostram que 1.816 companhias brasileiras estão em processo de internacionalização, com atuação em 123 países. Parece muito, mas o Brasil apenas engatinha. Em 2007, último dado disponível, o país representou 0,4% dos investimentos estrangeiros diretos, comparados a 10% dos asiáticos. Em 2007, os países em desenvolvimento responderam por 13% dos investimentos, acima dos 5% de 1990. Para a Sobeet, a crise deve aprofundar essa tendência, já que as economias emergentes foram as menos atingidas.

Algumas empresas, mesmo na crise, focam na internacionalização, porque seu mercado interno está saturado. É o caso da São Paulo Alpargatas, dona da marca Havaianas. No Brasil, são vendidos 850 pares de Havaianas por cada mil habitantes, o que significa que quatro em cada cinco brasileiros compram um par a cada ano. No exterior, a média é de apenas dez pares para cada 100 mil habitantes. Na Austrália, um dos principais mercados da Havaianas, a média chega a cem pares, mas não passa de cinco na Itália, França ou Inglaterra. De acordo com informações apresentadas no seminário, as exportações representam 13,6% das vendas da Havaianas, muito acima dos 1,3% registrados em 1999. Afonso Sugiyama, gerente de produtos internacionais da Alpargatas, disse no evento que a meta é elevar essa fatia para 40%. Com a crise, a Havaianas reduziu os investimentos em marketing no exterior, mas mantém os planos de abrir escritórios em Londres e na Itália.