02/12/10 11h22

Múltis investem de olho no suprimento de matéria-prima

Valor Econômico

A indústria de bens de maior valor agregado vem recebendo proporcionalmente menos recursos para investimento externo direto do que no passado. Em 2010, os fabricantes de automóveis, máquinas e de materiais elétricos e de comunicações receberam apenas 3,2% do total recebido pela indústria até outubro de capital externo para investimento produtivo nas operações de participação no capital. O contrário ocorreu nos setores de commodities, que ficaram com 44% do total. Se desta conta for retirado o setor de químicos (que distorce a série de 2010), esses três segmentos representam 77% do total. Para o economista Fernando Sarti, professor da Unicamp, além dos setores produtores de commodities serem percebidos atualmente como muito rentáveis, os investimentos estrangeiros neles refletem a estratégia de multinacionais interessadas em assegurar fornecimento de matérias primas.

Já o quadro para alguns segmentos de manufaturados mais sofisticados tem sido bem menos animador neste ano. "O que me preocupa são alguns setores em que há pouco investimento", diz Sarti, citando o caso do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias. De janeiro a outubro, chegaram apenas US$ 210 milhões para o setor nas operações de participação no capital, muito abaixo dos US$ 2,083 bilhões de igual período de 2009. Tampouco os empréstimos intercompanhias (da matriz para a filial) são representativos em 2010, somando US$ 391 milhões de janeiro a outubro. Outro setor de manufaturados que está longe de despertar o entusiasmo do investidor estrangeiro é o de máquinas e equipamentos. De janeiro a outubro, o segmento recebeu apenas US$ 248 milhões, abaixo dos já esquálidos US$ 390 milhões do mesmo período de 2009 nas operações de participação no capital.

Os investimentos estrangeiros diretos foram mais elevados no setor de produtos químicos: US$ 6,594 bilhões de janeiro a outubro, 42,7% do total destinado à industria, um dado fora do normal para este setor e que distorce o resto da série. Trata-se de um segmento amplo, em que há desde produtos produzidos com maior sofisticação tecnológica até outros que são intensivos em capital, mas de baixa tecnologia, diz Pereira. Outro setor com destaque neste ano é o de produtos de minerais não metálicos. Trata-se de um segmento de manufaturados de pouca sofisticação tecnológica, que recebeu US$ 1,146 bilhão de janeiro a outubro deste ano, quase seis vezes mais que no mesmo período de 2009. As perspectivas extremamente favoráveis para a construção civil ajudam a explicar o movimento.

Os estrangeiros também têm mostrado interesse no setor de produtos alimentícios. Os ingressos para participação no capital totalizaram US$ 948 milhões de janeiro a outubro, pouco mais que o dobro do mesmo período do ano passado, enquanto os empréstimos entre matriz e filial no setor atingiram US$ 3,150 bilhões, 26,4% a mais que em igual intervalo de 2009. É mais um caso em que a robustez do mercado interno, num quadro de renda e emprego em alta, estimula o investimento estrangeiro.