19/02/16 14h24

Nestlé planeja ampliar produção no Brasil

Valor Econômico

Apesar da dura recessão no Brasil, o gigante da nutrição Nestlé planeja investir mais de 100 milhões de francos suíços (R$ 400 milhões) este ano para ampliar capacidade e aumentar sua competitividade nesse que é seu quarto maior mercado de vendas no mundo.

A informação foi dada pelo vice-presidente executivo para as Américas, Laurent Freixe, em entrevista ao Valor. Ele observou que o montante de investimentos segue volume similar ao de 2015, quando estava em conclusão a fábrica de Nescafé Dolce Gusto, a primeira fora da Europa, e com o país já em recessão. Uma decisão que, segundo ele, entra numa perspectiva de negócios de cinco a dez anos.

"Não é porque o curto prazo é difícil que perdemos a visão de longo prazo", afirmou o executivo. "O Brasil está em crise este ano, a retomada será difícil, mas nossa visão é de que continua um grande mercado consumidor e voltará a ter uma dinâmica no médio prazo".

O plano é aumentar capacidade para novas linhas de produtos, permitindo manufaturar localmente alguns que vêm sendo importados "para sermos mais competitivos, sempre numa perspectiva a prazo".

A expansão inclui a fábrica de comida para animais domésticos, segmento que continua tendo alta de vendas. A multinacional é dona de marcas como Purina, Dog Chow e Pro Plan.

Também haverá investimentos "significativos" no segmento de café. Um plano é, se houver o crescimento esperado na venda de Nescafé Dolce Gusto, ir adiante logo com a ampliação da fábrica de cápsulas que foi inaugurada há menos de dois meses, em dezembro.

Isso parece ainda mais certo, porque em 2015 houve "desempenho excepcional" da marca no mercado brasileiro. As vendas do Dolce Gusto quase dobraram no Brasil, o que para o executivo confirma como vale investir em inovação e renovação.

Num ambiente macroeconômico adverso, a estratégia de Nestlé no Brasil em 2016 é clara. Conforme Freixe, haverá um esforço particular na redução de custos de estrutura (em escritórios, usinas etc) e operacionais (despesas variáveis ligadas à atividade, como mão de obra, matéria-prima, embalagens, etc). A ideia é com isso limitar reajustes de preço ao consumidor e ter recursos para continuar a investir em marcas para ganhar mais fatias de mercado e alimentar o crescimento das vendas.

"Vamos fazer um esforço ainda maior do que nos anos precedentes, para ter margem de manobra para investir no marketing, ter preço razoável num contexto de recessão e inflação, pois com a desvalorização do real há muita pressão inflacionária", afirmou.

Na sede do grupo, em Vevey, o desempenho da empresa em 2015 no Brasil foi comemorado. Os brasileiros continuaram consumindo muito café e chocolate produzidos pela Nestlé, além de não abrirem mão de comprar "pet food".

"Os resultados do Brasil foram muito bons, mesmo num ambiente mais recessivo", disse. "Houve crescimento orgânico (que exclui flutuação da moeda e aquisições) e também em volume". O aumento de vendas está em "mid-single digit", o que significa cerca de 5%.

Em todo caso, as ações da Nestlé fecharam ontem em queda de 3,71% depois que o grupo suíço anunciou seu menor crescimento de vendas em seis anos, em parte por causa da desaceleração nos mercados emergentes. O lucro líquido foi de 9,1 bilhões de francos suíços ante 14,46 bilhões de francos em 2014. As vendas caíram para 88,8 bilhões de francos comparado a 91,61 bilhões no ano anterior.

O crescimento dos negócios nos emergentes ficou em 7%, comparado a 8,9% em 2014. E houve uma ligeira recuperação nos mercados desenvolvidos, com expansão de vendas de 1,9%. A Nestlé faz 43% de suas vendas nos emergentes. Seu maior mercado é os Estados Unidos, seguido de China, França e Brasil.

O principal executivo de finanças da companhia, François-Xavier Roger, destacou o bom desempenho na América Latina, "apesar da situação [econômica] complicada no Brasil, Argentina e Venezuela". Na China as vendas estão em alta, depois que a Nestlé passou a apostar mais no comércio eletrônico. No mercado chinês, 55% das vendas de comida para animais domésticos e 30% das vendas de café e alimentos infantis são feitas pela internet.

O que pesou realmente no resultado foi a retirada do macarrão Maggi da Índia, por acusação de excesso de chumbo, o que a Nestlé nega. As vendas retomaram mais pelo fim do ano, porém o grupo suíço acha que o impacto ainda será sentido no primeiro semestre deste ano.

Para analistas, o resultado de Nestlé em 2015 está em linha com o resto do setor. O grupo anglo-holandês Unilever anunciou aumento de vendas de 1,5% no mercado de alimentos. A francesa Danone poderá apresentar desaceleração nas vendas, na semana que vem.

Para 2016, o presidente-executivo da Nestlé, Paul Bulcke, prevê cenário tão difícil quanto o do ano passado, mas espera melhorar a margem e o lucro por ação.