Nokia vê Brasil como estratégico em data centers e futuro polo de IA soberana
Vice-presidente mundial da divisão de data centers da Nokia afirma que país reúne vantagens para atender cargas locais e internacionais de inferência, com foco em latência, energia e conectividade
Tele SínteseO vice-presidente de data centers da Nokia, Michael Bushong, acredita que o Brasil reúne as condições necessárias para se tornar um polo relevante no mercado de inteligência artificial (IA) e automação de redes. Em entrevista ao Tele.Síntese nesta semana, ele apontou vantagens locais como acesso a energia, terra disponível, presença de talentos e alinhamento com metas ambientais — fatores que, segundo o executivo, favorecem a implantação de infraestruturas distribuídas, com foco em inferência e soberania de dados.
“O Brasil tem acesso a energia verde, espaço, concentração tecnológica e está bem alinhado com ambições sustentáveis. Isso o torna fértil para novas construções de tecnologia e para cargas de IA”, afirmou Bushong.
IA distribuída e soberania digital
Segundo o executivo, há dois grandes blocos no ciclo de IA: o treinamento de modelos fundacionais, que pode ocorrer em data centers concentrados, e a inferência, que exige proximidade com o usuário para garantir baixa latência. Neste segundo caso, a distribuição física dos centros de dados — seja em áreas metropolitanas, seja na borda — torna-se estratégica.
“Na inferência, performance é muito importante. Se os usuários não recebem feedback imediato, eles não usam. Isso favorece centros de dados distribuídos”, explicou.
Bushong também destacou a crescente demanda por data centers “soberanos”, especialmente fora dos Estados Unidos, como forma de garantir conformidade legal e controle sobre dados sensíveis. “Para a maioria das pessoas fora dos EUA, os centros de dados soberanos fazem muito sentido”, disse.
Competição global: Brasil, Oriente Médio e Índia
O executivo enxerga oportunidades para o Brasil não apenas no atendimento ao mercado local, mas também como opção para cargas internacionais, diante das restrições de espaço e energia na Europa. “Para alguns workloads, pode fazer sentido para o Brasil tentar hospedar parte dessas computações”, disse, citando a preocupação europeia com sustentabilidade.
Ele também mencionou o Oriente Médio e a Índia como regiões que têm se beneficiado de subsídios estatais para atrair projetos de IA, e ressaltou que o Brasil pode competir se eliminar barreiras de curto prazo com políticas públicas que facilitem a instalação de novas infraestruturas.
Automação com multivendor e redução de erros
Bushong defende uma abordagem “top-down” na operação de redes de data centers, priorizando automação e compatibilidade multivendor. “As redes hoje são muito mais frágeis do que deveriam ser. O que as pessoas querem é algo que funcione, seja fácil e acessível. E o principal motivo para automatizar não é agilidade, mas evitar erro humano”, argumentou.
O modelo de negócio da empresa para data centers no Brasil prevê parcerias com integradoras para a distribuição dos produtos, software e serviços. Bushong afirmou que a Nokia atende tanto hyperscalers quanto operadoras de colocation e ISPs. Cita como exemplo a parceria com a Lightera (ex-Furukawa), para exemplificar o modelo de atuação via integradores. “Vendemos com eles para os usuários finais”.
Para o mercado brasileiro, o executivo vê oportunidades para os ISPs e operadoras que apostarem na borda e em serviços de inferência como serviço (Inference as a Service). “Os ISPs têm vantagens únicas: relação com o usuário, imóveis, conctividade e presença local. Isso pode ser valioso para entregar soluções com baixa latência”, afirmou.
Mercado de IA: entre hype e valor real
Sobre o futuro do mercado de IA, Bushong reconhece o excesso de expectativas, mas vê espaço para crescimento. “Mesmo que muitos projetos falhem, a demanda está muito à frente da capacidade. Isso vai sustentar o mercado por alguns anos”, disse.
Segundo ele, setores como radiologia, agricultura de precisão, petróleo, gás e farmacêutico devem capturar valor real com IA — especialmente onde há dados proprietários. “Quando a informação é fácil de obter, ninguém ganha dinheiro com isso. Mas quando ela é única, o valor é durável”, concluiu.
A Nokia é uma das empresas que estarão no TS Data Center, AI & Cloud Summit, organizado pelo Tele.Síntese, que acontece na próxima terça-feira, 26, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. Saiba mais sobre o evento aqui: https://eventos.telesintese.com.br/ts-data-center-cloud-summit-2025/.