09/05/18 12h21

Ouro Fino volta ao azul e avalia ir às compras

Valor Econômico

Principal indústria veterinária de capital nacional, a paulista Ouro Fino parece ter superado a "tempestade perfeita" que consumiu a companhia durante a recessão econômica. A empresa, que viu a rentabilidade cair pela metade e o faturamento em mais de 40% no fim de 2016, recuperou patamares históricos de margens. Com a retomada, a Ouro Fino já considera até mesmo a possibilidade de fazer aquisições, algo incomum na história da companhia.

A Ouro Fino, que tem ações listadas na B3, reportou ontem os resultados do primeiro trimestre. No período, a empresa de Cravinhos (SP) teve lucro líquido de R$ 3,6 milhões. No mesmo intervalo de 2017, a companhia estava no vermelho, com prejuízo de R$ 6,9 milhões.

No período, a receita líquida da Ouro Fino cresceu 22%, para R$ 91,9 milhões. Na mesma base de comparação, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) aumentou em mais de dez vezes, totalizando R$ 12 milhões. Com isso, a margem Ebitda ajustada alcançou 13,5%, ante 1,6% um ano antes.

A melhora reflete uma reestruturação que teve início no fim de 2016, com o retorno de Jardel Massari à presidência-executiva da empresa. Ao lado do amigo Norival Bonamichi, Massari fundou a companhia em 1987 e mantém o controle da empresa - os dois também controlam a Ourofino Agrociência, empresa de defensivos agrícolas desvinculada da operação veterinária. Juntos, Massari e Bonamichi têm 56% da Ouro Fino Saúde Animal. A gestora General Atlantic detém 16,9%, e a BNDESPar, 12,3%.

Quando Massari reassumiu, a Ouro Fino sofria com os reflexos da crise do país e de decisões erradas tomadas pela empresa. Buscando preservar mercado, a empresa adotara uma política agressiva de descontos e prazo de pagamentos aos clientes, o que afetou a sua geração de caixa.

Mas a Ouro Fino reviu essa política comercial e também o portfólio de produtos, retirando medicamentos com margens menores. Nesse processo, reduziu a exposição aos medicamentos para a avicultura, setor este que enfrentava severa crise em 2016 devido aos preços altos do milho e que é caracterizado por uma concorrência mais acirrada com as multinacionais - Zoetis, MSD e Boehringer.

Em entrevista ao Valor, o principal executivo de finanças e diretor de relações com investidores da Ouro Fino, Kléber Gomes, afirmou que as mudanças feitas a partir do quarto trimestre de 2016 recuperaram a "credibilidade" da empresa ao longo do ano passado, quando os resultados já tiveram reação.

A tendência é que em 2018 o desempenho também melhore, disse Gomes. De acordo com ele, a Ouro Fino, que é a terceira maior indústria veterinária em vendas no Brasil, pretende aumentar o faturamento acima do avanço do mercado nacional l - que deve crescer mais de 8% neste ano. Segundo dados do Sindicato das Indústrias de Saúde Animal (Sindam), as vendas do segmento geram anualmente mais de R$ 5,3 bilhões - a receita líquida da Ouro Fino somou R$ 505 milhões no último ano.

Segundo o executivo, o crescimento da Ouro Fino será impulsionado pelas vendas de produtos para a pecuária bovina e pelo início de reação do mercado de animais de companhia (pet), segmento da indústria veterinária que mais sofreu durante a recessão. O segmento de animais de companhia representa 12% das vendas, e o negócio de animais de produção (bovinos, aves, suínos) respondem por 80%. O restante é gerado fora do Brasil - sobretudo no México e na Colômbia.

Para 2019, a Ouro Fino deve contar com maior presença no mercado de vacinas. A nova fábrica da empresa, no complexo de Cravinhos (SP), já está em fase de testes. "A fábrica vai ajudar muito no crescimento", disse.

Financeiramente, a Ouro Fino está saudável, segundo Gomes. No fim do primeiro trimestre, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) atingiu 1,7 vez. "É até bastante desalavancado", disse. Se tudo correr como esperado e a empresa seguir gerando caixa, a Ouro Fino poderá fazer aquisições. "Se continuar caindo, nos dá possibilidade de pensar em operações diferenciadas", afirmou, mencionando ter interesse na aquisição de tecnologias - e não de empresas inteiras. Ainda não há negociações em curso.