24/09/10 15h04

Padaria vira investimento em São Paulo

Folha de S. Paulo – 24/09/10

O empresário Fernando Cunha lembra da atuação no mercado financeiro ao falar em conselho de administração, departamento de marketing e de tecnologia da informação. Hoje, ele usa esses nomes para descrever o organograma do seu negócio, de padarias. "Já recebemos propostas de quatro fundos de private equity (participação em empresas), conta Cunha, sócio e presidente do conselho do grupo Dona Deôla. O executivo representa a transformação de redes de padarias em negócios estruturados.

A profissionalização do setor se intensificou com o avanço das superpadarias, no início da década em São Paulo. O modelo foi adotado para enfrentar a concorrência com lojas de conveniência e lanchonetes. Foi uma forma de oferecer mais serviços e diminuir custos fixos.

Com maior número de funcionários -saltou de 30 para 300, em média- e logística mais complexa, as organizações amadureceram. As mudanças alçaram o faturamento dos negócios para a casa dos milhões e permitiram o crescimento dos grupos. "O nosso grupo, quando percebe que tem um ponto bom para montar ou para comprar, vai lá e negocia. Sempre pensando em melhorar a empresa, fortalecer o grupo", diz Fernando Cunha, do grupo da Bella Paulista, que tem 600 funcionários e atende 7.000 clientes por dia em uma das cinco unidades.

Os sócios pagaram R$ 3 milhões (US$ 1,7 milhão) pelo ponto da tradicional lanchonete Real, em Perdizes (SP). Têm ainda uma inauguração prevista para 2011 e estudam outra área. O investimento para uma superpadaria, dizem, é de cerca de R$ 5 milhões (US$ 2,9 milhões). Cunha lembra que, apesar do crescimento, as padarias são negócios de intensa mão de obra e têm uma ligação emocional forte com o cliente, o que dificulta o ganho de escala. Esse foi um dos argumentos que o levaram a descartar as propostas dos fundos de investimento.

Os investidores também bateram à porta da rede Benjamin Abrahão, que tem 12 unidades. Queriam franquear o conceito de padaria "express" em faculdades, criado em 2002 a partir um convite do Mackenzie. "Os intervalos são pequenos e você tem que atender muita gente em pouco tempo. A gente brinca que tem de ser mais rápido do que o McDonald's", explica Raquel Abrahão, que recusou o convite dos investidores por temer perda de qualidade. O grupo quer agora montar um centro de distribuição para crescer com o modelo "express", que exige investimentos 30% mais baixos que o de uma padaria média.