18/10/12 16h22

País pode triplicar oferta de gás até 2020

O Estado de São Paulo

Estimativas são da ANP e foram apresentadas em seminário realizado pelo Grupo Estado; participantes ressaltaram atenção à infraestrutura

O Brasil pode triplicar para 120 milhões de m³/dia a oferta de gás ao mercado até 2020, considerando basicamente novos projetos do pré-sal, segundo estimativas preliminares da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apresentadas ontem pela diretora-geral Magda Chambriard.

Com o gás não convencional, as reservas podem ser multiplicadas em várias vezes, segundo palestrantes reunidos ontem no seminário "O Futuro do Gás Natural", realizado pelo Grupo Estado com patrocínio da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).
No entanto, sem infraestrutura de escoamento adequada, investimento em tecnologia e formação de uma indústria para consumir o combustível, o País pode correr risco de se ver na inusitada posição de precisar reinjetar gás nos campos do pré-sal ou deixar de desenvolver suas reservas de gás não convencional.
"Tenho certeza de que o mercado encontrará um equilíbrio", disse Magda. "Não sou tão pessimista quanto algumas pessoas que estão aqui", afirmou, em referência a discursos céticos sobre o mercado de gás não convencional apresentados no evento.
O gerente do departamento de petróleo e gás do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luiz Daniel Wilcox de Souza, acredita ser cedo para avaliar se o Brasil poderá repetir o exemplo bem-sucedido dos EUA, onde o gás de xisto baixou o preço do insumo a recordes históricos. "Nossa malha está toda na costa. Se comparar com a base das possíveis bacias (localizadas no interior do País), há uma incongruência."
Souza diz que o banco ainda tenta verificar se o bem-sucedido exemplo americano poderá ser replicado no Brasil. Ele lembra que nos EUA havia uma experiência antiga na área e boa malha de dutos para distribuição.
Porém, ele afirmou que o BNDES está pronto para financiar projetos de gás não convencional. "O banco está preparado para apoiar, tem instrumentos para tal", disse, citando exemplos anteriores no mercado de gás de exploração e infraestrutura.
A diretora-geral da ANP diz que o Brasil pode triplicar a oferta de gás ao mercado até 2020, dos atuais 40 milhões de m³/dia, já descontando o consumo da Petrobrás e de suas refinarias, levando em conta o gás convencional, em especial do pré-sal.
A Abrace lembra que as reservas não convencionais do Brasil, o chamado shale gas ou gás de xisto, podem representar 300 anos do atual consumo de gás do Brasil. Embora sejam potencialmente gigantes, as reservas ainda não estão confirmadas. Tampouco está garantida a viabilidade comercial delas, o que só será comprovado à medida que os poços forem perfurados. Nenhum poço foi perfurado até hoje no Brasil. "O mercado pode crescer a um ritmo chinês de 10% ao ano, mas precisa vencer alguns desafios", disse o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa.
A Petra Energia será a primeira a perfurar poços de shale gas no Brasil. O presidente da empresa, Winston Fritsch, diz que é preciso vencer os desafios ligados a custos, financiamento e monetização.