07/12/09 11h43

Pão de Açúcar dobra de tamanho em seis meses

Valor Econômico

As conversas entre Abílio Diniz, sócio controlador do Grupo Pão de Açúcar, e os analistas de investimento estão longe de ser as mais cordiais. No entanto, se há um empresário que em 2009 se beneficiou das vantagens de ser uma companhia aberta certamente é ele. Em seis meses, desembolsando apenas R$ 500 milhões (US$ 290,7 milhões), o Pão de Açúcar dobrou de tamanho com as aquisições do Ponto Frio e da Casas Bahia. De uma companhia com faturamento pouco menor que R$ 20 bilhões (US$ 11,6 bilhões), transformou-se num negócio com receita bruta anual de R$ 40 bilhões (US$ 23,3 bilhões).

O segredo da economia de caixa do Pão de Açúcar é o uso de uma moeda cada vez mais comum nas transações brasileiras: ações. Ambas as aquisições foram pagas, parte ou integralmente, com papéis de companhias abertas. No caso do Ponto Frio, apenas 45% foi pago em dinheiro, o restante foi em ações. Já a operação em que a Casas Bahia, no fim do dia, acaba como controlada indireta do Pão de Açúcar, foi paga totalmente com ações do Ponto Frio, adquirido em junho. Os dois negócios foram desenhados por Pércio de Souza, sócio da assessoria financeira Estáter.

Por enquanto, a família Klein não receberá nada em dinheiro pela associação - a não ser os aluguéis das propriedades onde estão as lojas. Mas receberá algo cada dia mais valioso com o desenvolvimento do mercado de capitais: a perspectiva de liquidez. Ou seja, de transformar patrimônio em dinheiro. A Casas Bahia é uma sociedade limitada, sem ações em bolsa.

A família Klein ficará com 49% do Ponto Frio. Por enquanto, esses papéis não terão liquidez. Mas o fato de a empresa ser aberta facilitará a vida dos criadores da Casas Bahia quando chegar a hora de transformar isso em dinheiro. Bastará uma oferta pública para a venda dos papéis. E só depois, e se os Klein venderem seus papéis na bolsa, será possível saber quanto, afinal de contas, eles levaram para casa.

O Ponto Frio encerrou a sexta-feira avaliado em R$ 2,3 bilhões (US$ 1,34 bilhão) na Bovespa, antes de incorporar a Casas Bahia. Já que os ativos da empresa - mais R$ 120 milhões (US$ 69,8 milhões) em bens que serão aportados pelo Pão de Açúcar do Extra Eletro - serão equivalentes a 51% do negócio, é possível depreender que a nova companhia teria um valor na bolsa da ordem de R$ 4,7 bilhões (US$ 2,73 bilhões), após a absorção dos bens que serão depositados pelos Klein.

O Ponto Frio, batizado de Globex na Bovespa, é pouco negociado. Essa liquidez deve ficar ainda menor após a oferta pública de compra dos minoritários - para extensão do prêmio de controle pela venda ao Pão de Açúcar. Atualmente, só 4,5% do capital está na bolsa, sendo que 3,5% são dos empregados. No entanto, a ideia é que mesmo assim o registro de companhia aberta do Ponto Frio seja mantido, para facilitar a saída dos Klein quando assim quiserem. Mas nenhuma oferta é esperada antes de um ano. As ações do Ponto Frio detidas pelos Klein ficarão bloqueadas para a venda por um tempo. Elas serão liberadas para venda gradualmente.