04/12/09 16h07

Parceria entre São Martinho e Amyris vai produzir especialidades químicas

Valor Econômico

O grupo nacional São Martinho, de Pradópolis (SP), e a companhia americana Amyris anunciaram a formação de uma joint venture para produzir especialidades químicas à base de caldo da cana. As duas companhias vão investir US$ 50 milhões na construção de uma unidade anexa à usina Boa Vista (GO), que pertence à São Martinho. A unidade também receberá aporte de R$ 90 milhões (US$ 52,3 milhões) para elevar a capacidade de produção de cana dos atuais 2,25 milhões de toneladas para 3,4 milhões de toneladas por safra. O início das operações está previsto para a safra 2011/12. A unidade Boa Vista vai destinar 2 milhões de toneladas de cana, dos 3,4 milhões previstos, para a produção de especialidades químicas.

A tecnologia trazida pela Amyris ao Brasil vai permitir a produção de farneseno, um componente químico resultado da fermentação do caldo de cana com leveduras. O farneseno é utilizado como matéria-prima para a produção de lubrificantes, cosméticos, diesel e combustíveis de avião.

Especializada em biotecnologia, a Amyris chegou à essa tecnologia a partir de pesquisas para combater a malária, afirmou John Mello, principal executivo da companhia. Em um primeiro momento, a Amyris queria utilizar sua tecnologia para a produção de diesel a partir da cana-de-açúcar. No ano passado, chegou a firmar uma aliança com a Santelisa Vale, de Sertãozinho (SP), mas a união foi desfeita este ano, uma vez que o grupo sucroalcooleiro, incorporado em outubro pela francesa Louis Dreyfus, passava por dificuldades financeiras.

A decisão de unir-se à São Martinho reflete o fato de a companhia sucroalcooleira paulista ter um perfil de produção de álcool voltado para as indústrias químicas. "A nossa decisão de fazer associação com a Amyris reflete o fato de a tecnologia ser inovadora", afirmou Fábio Venturelli, principal executivo da São Martinho. A companhia já produz álcool voltado para as indústrias químicas e farmacêuticas e tem um acordo comercial de exportação com a japonesa Mitsubishi. Venturelli destaca que o setor está se voltando para as indústrias químicas, com o diferencial de ter um produto renovável.

A Amyris pretende replicar sua tecnologia em seis usinas sucroalcooleiras do país até 2012, quando começará a produzir o componente químico em escala industrial. Para isso, pretende firmar joint venture com outro grupo do setor e fechar acordo para usar a tecnologia em outras quatro usinas. Uma delas será a Iracema, que também pertence à São Martinho. John Mello afirmou que a companhia já fechou um acordo para fornecer o farneseno para a Procter&Gamble e tem outros contratos já no gatilho.

O rendimento industrial do farneseno é estimado em 50 litros por tonelada de cana. A do etanol, para se ter uma ideia, chega a 75 litros por tonelada de cana. O litro do farneseno no mercado internacional é cotado entre US$ 20 a US$ 25.