02/02/12 15h01

Petrobras faz a maior captação externa do Brasil

Brasil Econômico

Petrolífera conseguiu US$ 7 bilhões em uma emissão de títulos da dívida que teve demanda para US$ 25 bi

A Petrobras conseguiu levantar de uma só vez US$ 7 bilhões no mercado internacional de dívida em uma operação que teve demanda de US$ 25 bilhões, mostrando que o apetite de investidores por companhias brasileiras está cada vez maior. O valor captado pela petrolífera é o maior montante já levantado por uma companhia do país.

“Foi uma operação global, com participação de investidores de todas as categorias”, afirma o responsável pela área de mercado de capitais da BB Securities em Nova York, Richard Dubbs. O banco foi um dos coordenadores da operação. Os títulos têmdiferentes vencimentos. A primeira parcela, de US$ 1,25 bilhão, vence em três anos. Uma segunda, de US$ 1,75 bilhão, em cinco anos. O restante está alocado em vencimentos que ocorrerão entre 2021 (US$ 2,75 bilhões) e 2041 (US$ 1,25 bilhão).

A Petrobras também conseguiu uma redução no custo de captação. Em janeiro do ano passado, os papéis emitidos pela petroleira com vencimento em 2021 pagavam ao investidor um “yield” (taxa de retorno) de cerca de 5,5% ao ano. Ontem, para o mesmo vencimento, o retorno ao investidor ficou em 4,796%. Já aqueles que irão vencer em 2041 tiveram, na oferta realizada em 2011, uma taxa de retorno pouco acima de 6,8%. Neste ano, pela reabertura da operação, a Petrobras pagará aos investidores 5,935% ao ano.

Essas taxas são as menores já pagas pela Petrobras em títulos da dívida externa. “Ela nunca captou tão barato no exterior”, comemora umexecutivo próximo à operação. Há duas razões para essa redução. A primeira é que os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que servem como referencial para essas operações, estão comum custo menor do que no ano passado. A outra razão é a demanda dos investidores por bons riscos.

“A combinação da qualidade de crédito da Petrobras e o menorretorno dos títulos do Tesouro americano permitem emissões de bônus em taxas menores do que o que vimos no ano passado”, considera Dubbs, da BB Securities. Com a oferta concluída ontem, a Petrobras supera um recorde que já era dela. Em janeiro do ano passado, captou US$ 6 bilhões, que era a maior captação de uma empresa brasileira.

Aida constante a mercado decorre da alta necessidade de caixa da companhia, que espera que os investimentos somem US$ 224,7 bilhões entre 2010 e 2015, tudo para garantir a exploração de óleo na cama de pré-sal. Nesse período, tem um plano de levantar US$ 91 bilhõesemdiferentes tipos de operações (empréstimos, emissão de dívida).

Por essa razão, outras captações da estatal são esperadas no decorrer do ano. Isso porque tradicionalmente a companhia diversifica suas fontes de captação e moedas. No ano passado, levantou com a emissão de títulos de dívida no exterior US$ 9,6 bilhões em dólares, euros e libras esterlinas. Dubbs lembra que toda vez que uma companhia com um histórico de captação vai a mercado precisa oferecer algum tipo de incentivo para o investidor, ou seja, mostrar que compensa adquirir papéis na nova operação em detrimento a compra no mercado secundário.

A demanda alcançada pela Petrobras em uma oferta recorde de uma empresa brasileira mostra que a petrolífera obteve sucesso nessa estratégia. “Foi uma operação de muito sucesso. Acredito que os emissores estão satisfeitos e os investidores também”, diz o executivo. Ele destaca ainda que houve uma diversificação muito grande nos tipos de investidores. Em uma operação como essa, de acordo com o executivo, é natural a demanda de investidores dedicados a mercado emergentes, mas a oferta da Petrobras atraiu também os gestores mais exigentes. “Vimos neste caso, em particular, uma gama de investidores muito ampla.”

Além de fundos dedicados a mercados emergentes, também participaram fundos de pensão, seguradoras, private bankings e fundos de hedge. Foram mais de 1,4 mil investidores, o que facilitou a redução das taxas pagas pela Petrobras. A demanda, que chegou a US$ 25 bilhões, surpreendeu os envolvidos na operação. “Nunca vi nada assim na vida. Nem para companhias brasileiras e nem para emissões de América Latina”, afirmou ao BRASIL ECONÔMICO uma outra fonte próxima à operação.

Na avaliação do vice-presidente de Tesouraria do West LB, Ures Folchini, a demanda por papéis de empresas brasileiras reflete a melhora da situação nos Estados Unidos e Europa. “Como de certa forma se tem uma solução, os investidores estão em busca de ativos com bom retorno”, diz. Outros bancos que ajudaram na coordenação da oferta foram o Santander, Morgan Stanley, JP Morgan, Itaú e Citi.