Petrobras faz sua maior investida no mercado de etanol

Valor Econômico

A compra de 45,7% do capital social da Açúcar Guarani, do grupo francês Tereos, pela Petrobras, anunciada no fim da tarde de sexta-feira, foi vista pelo mercado como a maior investida já feita pela estatal no mercado de etanol. Há tempos a Petrobras ensaiava um posicionamento mais firme neste mercado, mas a atuação se restringia até agora a uma fatia minoritária de 40% em uma usina em Minas Gerais, adquirida no fim de 2009. Com a operação, a Petrobras se associa à quarta maior usina em operação no Brasil. A Guarani tem capacidade de processamento de 17,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar - mesma capacidade da paranaense Santa Terezinha - e, na safra 2010/11, deve produzir 1,3 milhão de toneladas de açúcar e 430 milhões de litros de etanol, além de 300 GWh de energia.

A entrada da Petrobras na Guarani ocorre apenas dois meses após o anúncio da parceria entre a Cosan e a Shell, que se uniram para produzir etanol, açúcar e energia, e suprimento, além de atuar na distribuição de combustíveis no Brasil. Esse é o segundo grande negócio envolvendo a Guarani em menos de dois meses. No final de março, a Tereos decidiu transferir seus ativos da Europa e da região do Oceano Índico - estimados em € 1 bilhão - para uni-los com a Guarani, numa operação que totaliza € 1,7 bilhão. Com isso, a Tereos Internacional está em processo de incorporação total da Guarani. O objetivo, com a operação, foi iniciar o processo de preparação da empresa para a consolidação do setor de açúcar e álcool, a partir do Brasil. Outro motivo para a união das operações é a possibilidade de trazer um fluxo de caixa mais estável para o volátil negócio sucroalcooleiro.

Uma das mudanças que devem ser percebidas pela entrada da Petrobras Biocombustíveis no capital da Guarani é o perfil de produção da empresa. Atualmente, a usina destina 60% do processamento de cana-de-açúcar para a produção de açúcar e 40% para o etanol. A expectativa é de que o combustível passe a ter uma importância maior dentro do mix de produção da usina. Jacyr Costa Filho, presidente da empresa, disse que inicialmente os primeiros recursos recebidos da estatal serão direcionados à expansão orgânica, para ampliar em 3 milhões de toneladas a produção já de 2010. Dentro do plano estratégico de investimento de US$ 174 bilhões pela Petrobras de 2009 a 2013, US$ 2,8 bilhões estavam planejados para o segmento de biocombustíveis.

O projeto da Petrobras no etanol, no entanto, vai além da compra e investimentos em usinas. A estatal tem planos para construção de um alcoolduto, em parceria com a Mitsui e Camargo Corrêa, na PMCC. A empresa que será criada tem planos para desenvolver um projeto de logística para o etanol, por meio de dutos, desde o Centro-Oeste até o litoral do Sudeste, em uma extensão de quase mil quilômetros e investimentos de aproximadamente R$ 2 bilhões (US$ 1,1 bilhão). O alcoolduto está previsto para ser implantado em fases e, quando estiver concluído, irá se estender entre Paulínia (SP) e Senador Canedo (GO). O plano encontra-se com o projeto básico concluído e em fase de licenciamento ambiental - nenhum trecho começou a ser construído.