29/05/18 11h38

Programa da Fapesp estimula empresas em estágio inicial

Valor Econômico

O desperdício de água é problema recorrente no Brasil. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 38% da água tratada se perdem por causa de vazamentos, ligações incorretas e erros de medição. Mas a inteligência artificial pode ajudar a diminuir perdas durante a distribuição. É o que propõe a startup Stattus4, de Sorocaba (SP), criada em 2015 pelo casal Marília Lara, administradora, e Antonio Carlos Oliveira Júnior, engenheiro elétrico.

"Nossa ideia era desenvolver uma espécie de ouvido biônico para detectar vazamentos, que representam uma dor de cabeça principalmente nos grandes centros urbanos", conta Marília. Em dezembro de 2015, o projeto foi submetido ao programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A startup teve sua proposta aprovada em julho de 2016 e recebeu R$ 120 mil por meio da fase 1 do Pipe, cujo objetivo é demonstrar a viabilidade técnica do projeto.

O apoio da Fapesp possibilitou à Stattus4 desenvolver um protótipo do equipamento Fluid, sensor móvel capaz de gravar a vibração de água que passa pelo encanamento. Os dados coletados são enviados a um sistema de inteligência em nuvem que avalia onde há ou não vazamento, a partir de mais de 70 características da amostra.

Depois de levantar R$ 850 mil em três rodadas de investimento-anjo, entre agosto de 2015 e janeiro deste ano, a startup está com mais de 20 pilotos rodando no Brasil inteiro, incluindo Salvador (BA), Sorocaba (SP), Vale do Paraíba (SP) e São Leopoldo (RS). "Esperamos fechar contratos com pelo menos três grandes cidades neste ano", diz Marília. Com 13 pessoas na equipe, a empresa tem planos de internacionalização para 2019.

O projeto da Stattus4 é um dos muitos submetidos anualmente ao Pipe, da Fapesp. Em 2017, foram contratadas 237 novas propostas de startups, pequenas e médias empresas. Os desembolsos da fundação totalizaram R$ 71,9 milhões, valor 20,6% maior em relação a 2016. A maior parte dos projetos aprovados (116) buscou apoio para a fase 1 do Pipe, de validação de uma ideia inovadora, com contrato de financiamento por até nove meses.

Segundo Sérgio Queiroz, professor da Unicamp e coordenador adjunto de pesquisa para inovação da Fapesp, o programa está em fase ascendente, com importância crescente. A maior quantidade de startups nascidas em universidades e o estímulo à inovação aberta e ao empreendedorismo ajudam a explicar o aumento no número de projetos levados à Fapesp. "Não existe inovação sem financiamento: é preciso ter uma ideia, mas também alguém que banque aquilo", diz Queiroz.

O financiamento da Fapesp é considerado importante porque levantar recursos no começo do negócio, quando os empreendedores têm apenas ideia e disposição, é um dos principais desafios das startups. "Às vezes é mais difícil encontrar financiamento quando a ideia foi testada, mas ainda não validada. É o chamado 'vale da morte', momento em que as empresas precisam de recurso para dar o salto", afirma Queiroz.

No início de abril, a Fapesp anunciou apoio a 73 novos projetos em três chamadas, sendo duas do Pipe/Pappe. Em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o programa financiará oito projetos de pesquisa e desenvolvimento de aplicativos para aumento da produtividade do setor agropecuário. Outros 64 projetos aprovados receberão recursos por meio da fase 1, para testar a viabilidade técnica da ideia, e da fase 2, de desenvolvimento do produto.

Até 30 de julho, a Fapesp vai receber propostas para o 3º ciclo de análise do Pipe. Segundo a fundação, o montante reservado para atender as propostas selecionadas é de R$ 15 milhões. Pela fase 1, as pesquisas aprovadas recebem até R$ 200 mil e devem ser realizadas em até nove meses. Já na segunda fase, o desembolso da fundação chega a R$ 1 milhão, com prazo máximo de 24 meses. Ao longo de 20 anos, o Pipe já contemplou quase 1.780 projetos contratados, em valor total de mais de R$ 360 milhões destinados a cerca de 1.100 pequenas empresas.