23/04/10 15h14

Recomposição de estoques dá impulso extra à economia

Valor Econômico

O processo de recomposição de estoques deve dar um impulso extra a alguns setores da indústria nos próximos meses, num momento em que não faltam estímulos à atividade econômica, como o mercado de trabalho aquecido, os juros baixos para padrões brasileiros, a ampla oferta de crédito e os gastos públicos elevados. No segmento de material para construção e em alguns ramos de bens intermediários (insumos como aço, produtos químicos e celulose), o nível de inventários se encontra abaixo do registrado na média de 2004 a 2008, período em que a economia brasileira cresceu com força, a uma taxa média de 4,8% ao ano.

A situação é mais evidente no segmento de material para construção. Segundo números da Sondagem da Indústria da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 10,7% das empresas consultadas em março informaram ter estoques insuficientes, na série livre de influências sazonais, bem acima da média de 4% de 2004 a 2008. Além disso, apenas 3,6% das companhias do setor relataram ter inventários excessivos (bem abaixo dos 13,4% da média 2004-2008). No caso do número geral para a indústria de transformação, a situação é mais equilibrada, com 4,7% das companhias informando estoques insuficientes (um pouco acima dos 4% da média 2004-2008) e 5,3% com inventários excessivos (abaixo da média de 9% de 2004-2008).

O economista-chefe do J. P. Morgan, Fábio Akira, diz que os estoques em níveis relativamente baixos são mais um fator a impulsionar a produção industrial, num momento de forte aquecimento da economia. A perspectiva de que a recomposição de inventários continue nos próximos meses acena com um bom resultado para o Produto Interno Bruto (PIB) também no segundo trimestre, afirma ele. Isso contribuiu para que ele revisasse de 6,2% para 7% a previsão para o crescimento neste ano. O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, também vê na reposição de estoques um impulso a mais para o crescimento em 2010. Ele diz que a situação na construção civil é evidente, já que o segmento vive um boom, com falta de mão de obra qualificada e elevação forte dos salários.

Montero considera que o setor de bens intermediários também tem estoques a recuperar. Os números da sondagem da FGV mostram que, das empresas do setor consultadas em março, 3,9% relataram inventários insuficientes, enquanto 3,8% informaram níveis excessivos. O setor de distribuição de aço fechou março com estoques abaixo da média histórica, segundo Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). No mês passado, os inventários do segmento equivaliam a 2,1 meses de venda, menos que os 2,7 meses tidos como normais, afirma ele. No primeiro trimestre, a distribuição cresceu 34% em relação ao mesmo período do ano passado. Com o resultado do primeiro trimestre, ele revisou de 15% para 20% a expectativa de crescimento neste ano. Segundo Loureiro, a construção civil, a indústria automobilística e o setor de máquinas agrícolas têm mostrado demanda expressiva.