25/11/10 11h12

Redes inteligentes abrem mercado bilionário para TI

Valor Econômico

Se Alexander Graham Bell viajasse no tempo para os dias atuais, não saberia imediatamente como fazer uma ligação telefônica, tamanha a evolução do aparelho criado por ele. Mas se Thomas Edison fizesse o mesmo tipo de viagem, ainda conseguiria administrar uma empresa de energia. A comparação é bastante conhecida das empresas de energia, mas esse consenso sobre a defasagem tecnológica do setor está prestes a mudar. Aproximadamente 90 países - inclusive o Brasil - investem na implantação de redes inteligentes, também conhecidas como "smart grid". A Agência Internacional de Energia estima que sua adoção exigirá investimentos de US$ 13 trilhões em todo o mundo nos próximos 20 anos.

No Brasil, a implantação de "smart grid", ainda em fase de regulamentação pelo governo, abre para as empresas de tecnologia um potencial de geração de negócios de pelo menos R$ 22,4 bilhões (US$ 13,2 bilhões), segundo cálculo da consultoria Accenture, que estima um gasto de aproximadamente US$ 200 (R$ 344) por medidor eletrônico. Esse seria o valor necessário para substituir 65 milhões de medidores em uso hoje e para implantar sensores ao longo das redes de distribuição, conectados a um sistema integrado tráfego de dados e de energia. Essa substituição está prevista para ser feita no prazo de dez anos.

Distribuidoras precisarão aprender a lidar diretamente com o consumidor, como ocorreu na telefonia

No dia 9 de dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realiza a consulta pública presencial nº 043/2010 para discutir com o setor privado as normas para implantação dos medidores inteligentes de energia. Segundo a área técnica da Aneel, após a consulta a norma técnica será finalizada e deve ser publicada até março. A partir daí, as empresas terão 18 meses para iniciar a substituição dos medidores - o prazo foi estipulado devido à produção ainda em pequena escala desses equipamentos no Brasil.

A troca dos medidores é uma parte da "smart grid", prevista na Portaria nº 440/2010 do Ministério de Minas e Energia. O plano inclui a adoção de sistemas mais robustos para o monitoramento dos dados fornecidos pelos medidores - como consumo por horário e por tipo (eólica, hidrelétrica etc.). Esses sistemas serão capazes de informar, por exemplo, o custo do KW/h de cada casa em diferentes horários do dia. Isso será fundamental para que as empresas de energia possam trabalhar com tarifas diferenciadas ao longo do dia, estimulando o consumo fora dos momentos de pico de demanda, como ocorre no setor de telefonia. O projeto prevê ainda a instalação de sensores ao longo das redes de distribuição e nos transformadores, para identificar falhas e avisar à central para que ela determine a correção à distância.

Elucid, que presta serviço para 45% das concessionárias do país, estima investimentos no setor de até R$ 60 bilhões (US$ 35,3 bilhões), afirma o presidente da companhia, Michael Wimert. Além de gerar negócios nas áreas de equipamentos eletroeletrônicos e software, a rede inteligente cria também um mercado potencial para as empresas de telecomunicações de tráfego de dados dos sensores com as centrais de energia. "As redes inteligentes vão abrir oportunidade para a oferta de serviços como banda larga, TV por assinatura e VoIP [voz sobre IP] em regiões onde as teles não têm interesse em investir e que são áreas de concessão das distribuidoras de energia", afirma.

O chefe do departamento de gestão tecnológica do sistema Eletrobrás, Luís Frade, diz que boa parte das tecnologias que o setor demandará ainda terá de ser desenvolvida: "Existem medidores, software e telefonia, mas ainda falta muita coisa." Hoje, existem 5 mil projetos de pesquisa e inovação sobre energia no país, dos quais cerca de 5% voltados para "smart grid", segundo a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). Até 2012, haverá 7 mil pesquisas em andamento, sendo ao menos 10% sobre as redes inteligentes.