05/06/14 15h06

Röchling inaugura 1ª fábrica brasileira

Empresa já produz em Itupeva peças plásticas para motores da VW

AutomotiveBusiness

Especializada na produção de peças plásticas de alta resistência para uso no cofre do motor, a alemã Röchling inaugurou em Itupeva (SP) sua primeira fábrica brasileira – a vigésima no mundo, mas a primeira unidade produtiva do grupo ao sul da linha do Equador. “Chegamos aqui com cerca de 10 anos de atraso em relação aos principais concorrentes, porque antes atuávamos no Brasil em uma sociedade com a Seeber Fastplas. Com o fim dessa parceria decidimos que precisávamos ter uma planta própria no Brasil, incentivados primeiro pela Volkswagen, que precisava localizar componentes aqui (para os motores da família EA 211)”, explica Peter Mettens, diretor geral da empresa no País.

A Seeber Fastplas concentrou seu negócio em grandes peças plásticas pintadas para carrocerias, principalmente de caminhões. Como esse não era o foco da Röchling, em 2010 a empresa decidiu alçar voo solo. Primeiro, pensou em comprar alguma empresa do setor já estabelecida no País, mas desistiu da ideia assim que examinou os passivos de alguns candidatos à aquisição. “O risco era grande, todas tinham sérios problemas financeiros e instalações antigas. A Röchling é uma empresa familiar de 200 anos e muito conservadora para investimentos. Por isso optamos por abrir a operação do zero”, conta Mettens, que após trabalhar 10 anos na empresa, a maior parte do tempo na subsidiária italiana, chegou ao Brasil em 2011 para iniciar a busca por um local para a fábrica.

Com pesquisa localizada em um raio de 100 km de Jundiaí, para ficar próxima dos principais clientes, após visitar terrenos que precisariam de grandes investimentos em infraestrutura industrial, Mettens encontrou em Itupeva o galpão quase pronto para uso – onde antes, por coincidência, funcionava uma empresa fabricantes de artigos plásticos injetados. Sem necessidade de obras civis relevantes, o local foi comprado no fim de 2011 por cerca de R$ 20 milhões. “Foi uma oportunidade única. Economizamos cerca de R$ 4 milhões com isso, pois já havia estrutura elétrica, dutos de resfriamento e pontes aéreas”, diz o executivo. A área construída total de 7,5 mil metros quadrados foi dividida em duas: metade para a divisão automotiva e a outra parte para a unidade de produção de plásticos de engenharia da Röchling, que fornece materiais para diversos setores, exceto para fabricantes de veículos.

O plano é investir de € 2 milhões a € 3 milhões por ano na operação. No galpão destinado à Röchling Automotive, todo o maquinário é novo. O processo de manufatura foi projetado com base no modelo da unidade de Laives, na Itália. Já entraram em operação três grandes injetoras de plástico da americana Haitian – outras três estão nos planos – e uma sopradora, esta comprada da brasileira Pavan Zanetti. Cada máquina custa cerca de R$ 1 milhão.

As três células de montagem têm apenas dois operários cada uma. A maior parte dos processos é automatizada, incluindo o aperto de parafusos e checagem eletrônica por robôs. Muito enxuta, a operação demonstra alto nível de produtividade, com apenas 24 funcionários no total, incluindo as funções administrativas. “A organização enxuta nos torna competitivos, permitindo que os clientes possam localizar peças a custos aceitáveis, evitando riscos logísticos e cambiais das importações”, destaca o diretor geral.

Mettens admite que no Brasil as matérias-primas usadas pela Röchling são mais caras, mas ainda assim atualmente só um tipo de parafuso é importado, por causa de uma patente. “Todo o resto estamos comprando aqui”, diz. São apenas seis fornecedores no total. O principal deles é a italiana So.F.Ter, que tem fábrica no Rio Grande do Sul e fornece a base de polipropileno para as peças. “Conseguimos convencê-los a produzir o composto que precisamos aqui no Brasil”, revela o executivo.

Clientes
A Volkswagen é primeiro – e até agora único – cliente da operação brasileira da Röchling. A montadora compra coletores de admissão e caixas do filtro de ar em polipropileno (PP), usados pelos novos motores da família EA 211, o três-cilindros 1.0 do Up! e do Fox Bluemotion e o quatro-cilindros 1.6 já lançado no Gol Rallye e Saveiro Cross. Os coletores são enviados para a unidade de motores da Volkswagen em São Carlos (SP) e o conjunto do filtro de ar já montado para as plantas de Taubaté (SP) e uma pequena parte para São José dos Pinhais (PR).

“Lançamos o primeiro coletor de admissão em PP, resistente ao calor, mais barato e com peso 15% menor (do que a poliamida, normalmente mais utilizada para essa aplicação). Como a Volkswagen ia fabricar o motor no Brasil com esse componente, precisava localizar mais suas compras e nos garantiu os pedidos para começarmos a operação brasileira”, diz Mettens. “Ter um só cliente não é boa estratégia, mas já estamos conversando com vários aqui”, revela.

O segundo cliente da fábrica brasileira deverá ser a Ford, que a partir do fim deste ano passará a comprar da Röchling reservatórios de plástico para o cofre do motor do EcoSport. Em 2015 será a vez de fornecer dutos de ar para a BMW em Araquari (SC). Coincidentemente, essa sequência no Brasil obedece a mesma posição de importância que as três montadoras têm para o grupo no mundo: Volkswagen, Ford e BMW são, nesta ordem, os três maiores compradores da Röchling no mundo, que em 2013 teve faturamento global de € 1,3 bilhão. Além destes, Mettens admite que negocia a venda de componentes plásticos no Brasil para a Honda, General Motors, Renault, PSA Peugeot Citroën, Audi, Mercedes-Benz e Fiat. “Já são todos nossos clientes na Europa e Estados Unidos. Temos uma base forte de fornecimento global e com a produção de novos veículos no Brasil isso nos ajuda a conquistar novos contratos aqui.”

Embora a operação brasileira da Röchling seja ainda pequena, as perspectivas de vendas no País são crescentes. Já em 2015 – o primeiro ano inteiro de produção – a empresa espera faturar R$ 25 milhões, em curva ascendente que espera chegar a R$ 100 milhões até 2018. “O ideal é que cada cliente não represente mais do que 20% dos negócios, para termos uma operação equilibrada”, estima. Mettens espera trabalhar com, no mínimo, cinco clientes.

Caso seja necessário, o plano futuro de expansão no País inclui a instalação de unidades avançadas de produção perto dos clientes mais distantes, dentro de parques de fornecedores – como pode ser o caso da Ford em Camaçari (BA). “Aprendemos com o tempo que funcionamos melhor em instalações menores que 5 mil metros quadrados. Quando é preciso crescer além disso, preferimos abrir pequenas plantas ao lado dos clientes”, afirma o executivo.

Oportunidades
Com poucos concorrentes no mercado brasileiro para o tipo de componente produzido pela Röchling (os principais são Mann+Hummel, Magneti Marelli e Mecaplast), a empresa vê boas oportunidades de introduzir componentes inovadores (como já foi o caso do coletor de PP) que podem ajudar as montadoras a cumprir algumas das metas de inovação e eficiência energética estabelecidas pela política industrial do governo para o setor. “A Röchling vai aproveitar muito bem o Inovar-Auto, principalmente com a necessidade de redução de emissões”, aposta Mettens.

Uma das inovações que já está sendo oferecida a montadoras é o Active Grill, uma grade frontal inteligente com aletas móveis. Um atuador eletrônico que fecha a entrada de ar quando o motor não precisa de refrigeração. Isso melhora a eficiência térmica se o motor está frio, reduzindo emissões de CO2, e também reduz o arrasto aerodinâmico, o que traz economia de combustível. General Motors e PSA Peugeot Citroën já tem estudos para introduzir o equipamento em seus carros e Mettens espera ter o primeiro cliente no Brasil até 2015 ou 2016.

Outra oportunidade no mesmo sentido são peças plásticas defletoras que podem ser usadas embaixo dos carros, para liberar o fluxo de ar e reduzir o arrasto.

Também está nos planos a produção no Brasil de revestimentos muito leves, feitos com linhas prensadas de polipropileno. A Mercedes-Benz estuda a utilização do componente como isolante acústico e térmico para seus caminhões. E a GM pode introduzir o revestimento em um certo projeto Delta – provavelmente um sedã com projeto desenvolvido na Opel, que poderá ser feito também em alguma das fábricas brasileiras da montadora.