27/05/14 16h09

Rotam eleva aposta na área de defensivos genéricos no Brasil

Valor Econômico

A curta trajetória no Brasil não intimida a Rotam, multinacional de agroquímicos com sede em Hong Kong. No país há pouco mais de uma década, a empresa se transformou em uma das principais fornecedoras locais de defensivos genéricos e pretende dobrar seu faturamento no mercado brasileiro até 2018, para US$ 200 milhões. Para ajudar a sustentar esse crescimento, a companhia construirá em São Paulo uma unidade formuladora que deverá absorver investimentos de US$ 20 milhões.

"O Brasil responde por 25% das vendas da Rotam no mundo e só fica atrás do mercado chinês", diz Antonio Damaceno, vice-presidente da múlti no país. A companhia atua em 56 países e registrou receita global de US$ 400 milhões em 2013, montante que deverá ultrapassar US$ 500 milhões este ano, de acordo com o executivo.

Conforme Damaceno, a Rotam ainda é pequena diante do tamanho do mercado de defensivos genéricos - que respondem por quase 40% das vendas globais de agroquímicos, estimadas em US$ 50 bilhões. "As grandes multinacionais [as mesmas que lideram a criação de novas moléculas] dominam esse setor, mas sentimos que há espaço para crescer, estamos apenas 'arranhando a superfície' do mercado", afirma ele.

A decisão de erguer uma fábrica no Brasil, a primeira fora da China, foi tomada para tentar suprir o mercado nacional com mais agilidade. Hoje, a Rotam terceiriza uma parte da produção no país e o restante traz formulado da China. Entretanto, a demora para que os produtos sejam enviados do país asiático ao Brasil (são três meses desde que o pedido é feito) incentivou a múlti a investir em uma solução local. "Com um mercado tão dinâmico quanto o brasileiro, esse tempo de espera nos força a fazer muitos estoques para que possamos atender aos clientes no momento em que eles precisam, mas isso gera custos", diz Damaceno.

O local exato para a instalação da planta ainda está sendo discutido pela Rotam, mas o executivo afirma que a predileção é pela região de Campinas, no interior paulista, onde já fica a sede administrativa da empresa no Brasil. A múlti está à espera da aprovação de alguns registros de produtos (vinte estão "na fila") para iniciar a construção da fábrica, e a expectativa é que isso se concretize até 2015. A companhia já conta com um centro experimental em Artur Nogueira (SP), onde adapta os produtos criados lá fora às condições brasileiras.

A Rotam nasceu em Taiwan nos anos 1950 como uma empresa farmacêutica. Na década seguinte, a família Lu, que criou a companhia, migrou para o Canadá e iniciou investimento nos setores comercial e hoteleiro. Parte da família voltou para a China e, na década de 1990, passou a apostar na síntese de produtos técnicos (matérias-primas para defensivos), firmando parcerias com gigantes do setor que viram na China uma boa opção de manufatura.

Em 2000, mais segura em relação aos investimentos que fez em laboratórios e desenvolvimento de produtos, a Rotam se sentiu apta a alçar voos fora da China. Chegou ao Brasil em 2003, espalhando-se na sequência pelos países vizinhos e pelos EUA até chegar à Europa, em 2006. Naquele ano, foi aprovado o primeiro registro de um produto da Rotam no Brasil: um fungicida para a soja. Até hoje, a cultura é o carro-chefe de seu portfólio, ao lado de cana-de-açúcar e milho.

"Foi o primeiro produto registrado por equivalência no país", lembra Damaceno. O registro por equivalência indica que o produto técnico possui características similares a outro, já registrado pela empresa que descobriu a molécula e gerou dados de toxicologia e eficácia, o que elimina a necessidade de novos testes e barateia o processo.

Apesar de trabalhar com produtos criados por outras empresas, cujas patentes já expiraram, a Rotam mantém um centro tecnológico na China e tem investido em torno de 10% de seu faturamento anual em pesquisa e desenvolvimento para o aperfeiçoamento de moléculas - acima da média de 6% a 8% das demais empresas do setor, de acordo com Damaceno. "Não deixamos de ser uma empresa de genéricos, mas desenvolvemos tecnologias próprias de purificação de ativos e formulação", explica. "Por isso, nos sentimos muito mais uma empresa de pós-patente que de genéricos".