28/10/08 16h10

Seca faz Holambra II diversificar plantio e investir em laranja

Valor Econômico - 28/10/2008

A Holambra das flores, que também é dos cereais e do algodão, agora é da laranja. Em Paranapanema, pequena cidade com pouco mais de 16 mil habitantes do interior de São Paulo, as mudas estão na terra. Foi a melhor alternativa encontrada pelos descendentes de holandeses que estabeleceram ali a cooperativa Holambra II, em 1960, para driblar os veranicos comuns neste miolo do centro-sul do Estado, onde a fruta ainda encontra ambiente propício para avançar em áreas de sequeiro, apesar da cana onipresente e da expansão dos eucaliptos, outra opção com muitos adeptos. Diferentemente da Holambra "mãe", situada na região de Campinas, em Paranapanema as flores nunca foram a aposta principal, mesmo que até hoje sejam por lá cultivadas. No município, localizado em uma região que há 20 anos era conhecido como Vale da Fome, foi o plantio de cereais, com o auxílio da irrigação (ampliada após a seca de 1985), que impulsionou o grupo. Simon Veldt, que há 16 anos preside Holambra II, conta, com sotaque carregado, a história com orgulho. Ele diz que, junto com os cereais, a cooperativa levou para uma Paranapanema ainda hoje simples hospital, escola e saneamento, além de outras melhorias em infra-estrutura mais tarde terceirizadas ou transferidas à Prefeitura. Já são quase 700 hectares, diz Ivan Scholten, um dos 15 cooperados que vestiram a camisa laranja e passaram a formar seus pomares nos arredores do município. Até o fim de dezembro, afirma, sua família terá 48 hectares plantados. Ele explica que hoje, para compensar o elevado custo inicial de quase R$ 4,8 mil (US$ 2,2 mil) por hectare (inflado pelo temor com doenças), além dos R$ 2,9 mil (US$ 1,32 mil) por hectare no primeiro ano de manejo e os R$ 2,8 mil (US$ 1,27 mil) do segundo, é preciso tomar muito cuidado com segurança fitossanitária e eficiência. A receita dos pomares só aparece a partir do terceiro ano, e o retorno total do investimento vem no oitavo ano, pouco antes de sua necessária renovação. Tudo isso acontece com o mercado internacional de suco de laranja em baixa, num cenário que faz com que os citricultores paulistas reclamem recorrentemente dos preços da fruta pagos pelas empresas. Veldt, o presidente de Holambra II, não parece preocupado. Em primeiro lugar porque os pomares dos cooperados estão em formação. E também porque a idéia do grupo não é depender das indústrias, mas trabalhar com a opção de fornecer para elas, de vender para o mercado "de mesa" ou transformar a laranja em suco em fábrica própria. Instalado no centro de Paranapanema, Admar Theodoro Pinto, presidente do sindicato local dos trabalhadores rurais, tenta se manter informado sobre o que acontece em Holambra II. E, em princípio, acredita que a laranja pode ser uma boa opção, dado o acelerado ritmo de mecanização da colheita de cana. O que ele quer mesmo é criar um novo assentamento para agricultores familiares da região, mas, enquanto isso, tem esperança de que a colheita de laranja crie empregos para os cerca de 2 mil filiados ao sindicato. "Holambra II trouxe algodão, soja, milho e feijão para a região (plantados por 55 dos 90 cooperados, em uma área de 28 mil hectares irrigados com pivô). Quem sabe a laranja não nos ajuda? Melhor que a cana é", acredita. Holambra II também.