28/06/21 11h25

Seringueiras despertam interesse como commodity verde

Diário da Região

Rendimento a mais para o produtor e para toda a cadeia produtiva do setor de borracha natural, o crédito de carbono despertou o interesse para projetos que incentivem a preservação de áreas de florestas no Brasil e na produção das seringueiras do Noroeste Paulista. Em parceria com uma empresa multinacional, o consultor em heveicultura Marco Cerqueira apresentou o projeto a produtores da região e destaca que no Brasil ainda não há nenhuma captação de créditos de carbono na cultura de seringueiras, o que deve motivar ainda mais os heiveicultores a integrar o projeto. 

"A comercialização de créditos de carbono na Bolsa de Valores, em Nova York, é muito variável, mas as faixas de valores estão entre US$ 1,70 e U$ 47. A ideia geral do projeto é manter as florestas de seringueiras através da geração e negociação de offsets (créditos) de carbono, a serem ofertados dentro e fora do Brasil, no mercado voluntário", disse. Segundo o consultor, existem apenas quatro projetos semelhantes em todo o mundo com a cultura de seringueiras, na venda de créditos de carbono. 

A parceria com a empresa multinacional EcoSecurities, no ano passado, possibilitou a empresa de consultoria de Cerqueira a priorizar as questões ambientais, como as mudanças climáticas e os impactos causados em florestas. "Depois de pesquisar muito, consegui com a EcoSecurities, uma das maiores empresas que fazem a negociação com os créditos de carbono, mas que ainda não tinha nada relacionado com a cultura da seringueira. O desafio é muito grande, mas depois de conhecer o projeto na Colômbia, entre produtores que vendem os bônus de carbono, acreditamos no potencial da região para isso", disse. 

O crédito de carbono, um bônus concedido a quem reduz emissões de gases de efeito estufa, pode ser vendido para empresas poluidoras que seguem as regras do Protocolo de Kyoto, o que, segundo Cerqueira, está dentro da proposta já apresentada para 17 produtores de seringueiras. "São muitas empresas poluidoras no mundo todo que acolhem estes projetos ambientais. Mas, além disso, a produção das seringueiras ainda tem todo o aspecto social, como o de geração de milhares de empregos". 

Baixo carbono 

Para o diretor executivo da Associação Paulista dos Produtores e Beneficiadores de Borracha (Apabor), Diogo Esperante, a seringueira tem potencial recurso com o sequestro de carbono. "Uma árvore de seringueira tem a capacidade de neutralizar 22 toneladas de carbono no período de um ano. Além disso, o principal produto que se extrai da árvore é a borracha natural, sem a necessidade de desmatar área para obter o produto a ser beneficiado". Ele acrescentou que a produção de seringueiras, se analisada como agricultura de baixo carbono, tem todo o potencial de adicionar um produto, que é a borracha natural e não sintética, e por isso retorna ao meio ambiente com menor impacto de poluição. 

A região Noroeste do estado de São Paulo, segundo Diogo, em estimativa de 2019, responde por 66% da produção nacional de seringueiras, com 78 mil hectares de área e 133 mil árvores plantadas. Ele chama a atenção para a importância na preservação de solos, outro recurso dos seringais. "No Brasil e na nossa região, muitas seringueiras, que são árvores nativas da Amazônia, foram plantadas em áreas de pastos degradados", afirmou Diogo ao destacar a qualidade ambiental dos seringais. 

De acordo com Diogo, a Apabor e a Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha (Abrabor) estão em estudos sobre os créditos de carbono, já avaliados pelas duas entidades, como um recurso a mais para os heveicultores e trabalhadores do setor. "Não há dúvida sobre a importância desses projetos ambientais, levando em conta todos os aspectos da cultura, como os da alta taxa de sequestro de carbono, do não desmatamento e do produto final, que é a borracha natural". 

O diretor executivo da Abrabor, Fernando Val Guerra, disse que tem trabalhado em busca de soluções para monetizar a produção de látex com o crédito de carbono. A ideia, conforme o diretor, é dar alcance semelhante aos créditos verdes utilizados pela cultura de cana-de-açúcar e que tem o RenovaBio, um projeto que também contempla a diminuição de gases de efeito estufa. "Com todos estes recursos de sequestro de carbono das seringueiras, estamos procurando uma forma de agregar valor para o produtor com o crédito de carbono, um programa que seria o RenovaBor", diz Fernando. 

O investimento socioambiental também tem a aprovação do produtor rural Marcos Lourenço Santin, que destaca: "é um caminho sem volta, tanto para a agricultura como para as empresas, a preservação do meio ambiente". Em Nova Granada, na região de Rio Preto, Santin possui 450 hectares de área plantada com seringueiras, sendo o primeiro plantio de árvores há 43 anos. "Após esse tempo, essa área deve ser reformada com a plantação de novas mudas, mas é bom destacar que uma árvore de seringueira produz por mais de 40 anos". 

Como a cultura das seringueiras ocorre em área de florestamento, aliada à importância da neutralização de gás carbônico, Santin ressalta a adaptação da cultura no estado de São Paulo. "Além de toda a absorção de carbono, a seringueira se adaptou muito bem no clima mais seco do nosso estado, sem o aparecimento de fungos, mais comuns às regiões úmidas como as da Amazônia". Marcos disse ainda que a produção de látex cumpre ainda muitos aspectos favoráveis como o de não precisar desmatar pelo menos por mais de quatro décadas de produção da seringueira. 

fonte: https://www.diariodaregiao.com.br/economia/2021/06/1236727-seringueiras-despertam-interesse-como-commodity-verde.html