22/03/10 10h41

Setor privado engrena novo ciclo de investimentos

Valor Econômico

Na sexta-feira, o conselho de administração da Meias Lupo bateu o martelo e decidiu mais do que dobrar o volume de investimentos em 2010, passando dos R$ 18 milhões (US$ 10 milhões) definidos no ano passado para R$ 37 milhões (US$ 20,6 milhões). Desse total, R$ 32 milhões (US$ 17,8 milhões) devem ser destinados à compra de máquinas e acessórios, principalmente para a produção de roupas esportivas. Em fevereiro, a Lupo já havia recebido 98 máquinas importadas da Itália na sua fábrica de Araraquara, em São Paulo, para ampliar a fabricação de meias. Com essas medidas, a empresa pretende aumentar em 15% a capacidade de produção em relação a 2009, quando confeccionou 90 milhões de peças, conta o diretor comercial da Lupo, Valquírio Cabral. "A expectativa é de que o faturamento cresça de 20% a 22% neste ano. No primeiro bimestre, o aumento foi de quase 24%."

A história da Lupo é um bom retrato do ciclo de investimentos que volta a ganhar corpo no Brasil. O principal motor da empresa é o mercado interno, que responde por 95% de seus negócios. Companhias voltadas ao mercado doméstico estão apostando na ampliação da capacidade produtiva, estimuladas pela força do mercado de trabalho e pela ampla oferta de crédito, diz o chefe do departamento econômico do BNDES, Fernando Puga. O quadro é mais positivo no setor de petróleo e gás, com inversões puxadas pela Petrobras.

O número de empresas que anunciam projetos de investimentos aumentou bastante a partir de novembro, segundo levantamento do Bradesco. Em fevereiro, foram 103, o maior nível desde os 110 de maio de 2008. O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, diz que os investimentos estão "espraiados" pela economia, destacando que a indústria, que sofreu muito em 2009, voltou a investir com força. Como o Brasil mostrou força num momento de forte incerteza, as empresas se sentem seguras para investir em projetos de maior amplitude, com horizontes dilatados, afirma Barros, que prevê alta de 21,1% para o investimento neste ano. A retomada das inversões fica clara na demanda por empréstimos para a compra de máquinas e equipamentos do BNDES, impulsionada também pela baixa taxa de juros cobrada no Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), de 4,5% ao ano.

Nos setores mais voltados ao mercado interno, o automotivo e o petroquímico são os grandes destaques. A indústria automotiva deve investir R$ 32 bilhões (US$ 17,8 bilhões) entre 2010 e 2013, 40,8% a mais do que no ciclo de 2005 a 2008. Na petroquímica, os projetos chegam a R$ 36 bilhões (US$ 20 bilhões) entre 2010 e 2013, 87,1% acima do período anterior. Outra boa notícia, segundo Puga, é que têm surgido sinais favoráveis em setores que exportam insumos industriais importantes, como papel e celulose e siderurgia.