19/05/20 10h16

Startup entrega exames em casa para Covid-19 e cresce 40% ao mês

A testfy já comercializou mais de 30 mil unidades de exames domiciliares para a Covid-19. Startup vê crescimento mensal de 40% nas vendas dos testes em casa

Pequenas Empresas e Grandes Negócios

A pandemia causada pelo novo coronavírus gerou uma necessidade de testagem em massa da população brasileira. Enquanto hospitais públicos e privados enfrentam a lotação, startups criam soluções para testagem e análise próprias para garantir o acesso da população ao conhecimento de sua relação com a doença Covid-19.

A testfy inova na coleta desses testes. A startup criada no ano passado permite que consumidores fujam dos hospitais e peçam materiais para exames pela internet ou pelo mensageiro WhatsApp. Apenas nos testes para Covid-19, a testfy já comercializou mais de 30 mil unidades. O empreendimento vê hoje um aumento de 40% nas suas vendas e busca um novo aporte para continuar a expansão de 2020.

Ideia de negócio: exames em casa

Segundo o cofundador Gustavo Janaudis, a ideia para a testfy surgiu em uma conversa com um cliente. Bioquímico de formação, farmacêutico de profissão e especializado em gestão de negócios, Janaudis trabalha com diagnósticos há mais de 20 anos.

O futuro empreendedor conhecia bem a rotina estressante e demorada de fazer exames em laboratórios: acordar cedo, permanecer em jejum, enfrentar o trânsito, aguardar para ser atendido e passar pelo nervosismo de ser furado por uma agulha. O processo leva pelo menos uma manhã toda. "Queríamos levar toda essa rotina ao conforto da própria residência", afirma.

A testfy nasceu em janeiro do ano passado com a proposta de ser uma startup de acesso ao diagnóstico, promovendo uma medicina preventiva. O mínimo produto viável (MVP) da startup foi lançado em outubro de 2019. Eram três testes para análises genéticas e de inflamações decorrente da intolerância a certos alimentos. Os exames eram colhidos em casa e depois avaliados em clínicas médicas parceiras da testfy. "Tivemos um retorno positivo rápido tanto da classe médica quanto dos pacientes", diz Janaudis.

O modelo de distribuição é direto ao consumidor (ou D2C). O cliente adquire o material para realizar o exame pelo site ou pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. O teste é entregue na sua casa, com envio pelos Correios ou pelo aplicativo de transporte privado Loggi. A testfy adquire um certificado de transporte de material biológico e os testes são aprovados pela Anvisa.

O consumidor realiza o teste, fazendo um pequeno furo no dedo e depositando cinco gotas de sangue no recipiente indicado. Depois, envia o exame à testfy sem custos. O material passa por análise laboratorial tanto em parceiros quanto no Inside Diagnósticos, laboratório próprio dos criadores da testfy. O resulta sai em dois a quatro dias. Segundo Janaudis, a inovação da testfy está nesse sistema de autocoleta, e não no exame em si ou na análise laboratorial.

Coronavírus e crescimento para 2020

Até a última semana de maio, serão 15 tipos de exames mediados pela testfy. O mais recente deles é o da Covid-19. O exame é focado em quem tem sintomas da doença ou está curioso, mas não quer enfrentar aglomerações nos hospitais. "Começamos a ver demanda por testes de Covid-19 no final de fevereiro, mas não tínhamos estrutura e testes. Fechamos uma parceria e, em dois dias, foram 600 testes vendidos", diz Janaudis.

A startup então passou por um desafio: o laboratório parceiro falou que não tinha mais insumo para produzir os resultados dos exames. A testfy correu para que o Inside Diagnósticos conseguisse ser regulado para analisar exames da Covid-19. Foram duas semanas que os clientes ficaram com seus exames congelados, ainda que já tivessem pago e enviado suas amostras.

"Orientamos que eles permanecessem em casa e demos a opção de estorno do valor. Mas todos preferiram aguardar seus resultados", diz Janaudis. Na terceira semana de operação dos testes de Covid-19, a regulação foi aprovada para o laboratório de biologia molecular próprio da testfy.

Desde o final de março, mais de 30 mil testes foram vendidos entre consumidores finais e hospitais públicos, como o Instituto Adolfo Lutz (São Paulo). Os exames são feitos por PCR (coleta de material do nariz e da faringe) e sorologia (sangue). O PCR detecta a presença do vírus em tempo real, enquanto a sorologia detecta anticorpos ao vírus (se você está ou esteve antes com a Covid-19).

O laboratório da testfy tem capacidade para processar 25 mil testes de PCR e outros 25 mil de sorologia por mês. A startup já tem 45 mil testes contratados para este mês, traduzindo um crescimento de 40% sobre abril. Para junho, a testfy também projeta um crescimento de 40% nas vendas.

Em abril deste ano, a testfy atingiu seu equilíbrio entre receitas e despesas operacionais (break even). O retorno total é esperado para a metade de 2021, contando o investimento inicial de R$ 2,8 milhões e outros R$ 2 milhões de investimento anjo na startup. Apenas a adaptação para processar os exames de Covid-19 pediu R$ 320 mil em equipamentos e infraestrutura.

O faturamento se reduziu muito nos outros testes, mas foi compensado pelos exames de Covid-19. A testfy busca agora um aporte série A que ajude a continuar a expansão vista em 2020.

Cada teste custa R$ 290. O preço começou em R$ 590 e foi reduzido com o laboratório próprio e automação de análise. "Nosso objetivo não é ganhar uma margem alta, mas levar ao maior número de pessoas possível a seguir a orientação de testagem máxima da Organização Mundial da Saúde. Tenho conhecidos que fizeram teste conosco e tiveram resultado positivo para Covid-19. Antes tinham ido aos hospitais e não receberam testes, por terem sintomas leves. O foco está nos casos graves", afirma Janaudis.

Em colaboração com o setor público, as startups vão preenchendo lacunas para combater a pandemia causada pelo novo coronavírus.