23/07/20 14h49

Startup que democratiza energia solar recebe R$ 21 milhões

A Solfácil concede financiamentos para quem busca instalar painéis solares. Segundo fundador, retorno sobre investimento chega a 30% ao ano

Pequenas Empresas e Grandes Negócios

Seja por preocupações ambientais ou econômicas, o interesse pela energia solar tem crescido. Algumas startups já perceberam o potencial desse mercado bilionário -- assim como seus investidores.

O caso mais recente é o da Solfácil. A fintech concede financiamentos para quem gostaria de gerar energia solar em casa. A ideia atraiu um novo investimento de R$ 21 milhões, liderado pelo fundo Valor Capital Group.

A Solfácil usará os recursos para melhorar sua tecnologia, criar produtos financeiros e aumentar esforços comerciais. Demanda não falta, especialmente com o início da retomada econômica.

Ideia de negócio: energia solar democrática

A Solfácil foi criada pelo engenheiro Fabio Carrara no começo de 2018. O futuro empreendedor começou sua carreira como consultor no Boston Consulting Group. Um MBA na Universidade de Wharton (Estados Unidos) criou seu interesse pelo empreendedorismo.

Carrara voltou ao país e trabalhou como diretor de investimento em fundo de venture capital em 2012. Foi então que conheceu mais a fundo o mercado de energia solar. "O Brasil é o melhor país do mundo para este ramo. Temos uma matriz energética limpa, muita incidência solar e  mão de obra acessível. Uma proposta de bom retorno com um impacto econômico e sustentável positivo teria bastante aderência."

Os dados acompanham a percepção do fundador. Segundo dados coletados pela Solfácil com a Aneel e players do mercado, o setor de geração distribuída movimentou mais de R$ 6 bilhões em aquisições de sistemas solares em 2019. Seria uma expansão de 236% no número de instalações em comparação com 2018. No primeiro semestre de 2020, marcado pela pandemia causada pelo novo coronavírus, o crescimento teria sido de 90%. Somente 0,3% das unidades consumidoras brasileiras teriam tecnologia de energia solar. Na Austrália, por exemplo, a adoção residencial seria superior a 20%.

A primeira empreitada de Carrara no segmento foi a Solstar, criada em maio de 2015. A empresa instala projetos de geração de energia solar em estabelecimentos comerciais e residenciais. Carrara aprendeu sobre escala, relação de consumo e tecnologia para o setor. Também aprendeu sobre um grande gargalo: a necessidade de financiamento. "Vontade de colocar energia solar não falta no Brasil. Mas ainda se fala que é algo caro. Não concordo, porque tem um retorno de até 30% ao ano sobre o capital investido, mas falta o dinheiro para o brasileiro começar a investir."

A Solfácil surgiu dessa dor. A fintech realiza financiamentos de até 120 meses em um modelo B2B2C. Isso significa que a Solfácil oferece o crédito por meio de parceiros integradores, aqueles que atraem consumidores e instalam projetos solares. É uma relação parecida com a de empresas de crédito e concessionárias de automóveis.

A Solfácil recebeu um investimento anjo de R$ 4 milhões para começar a operar. Os pilotos começaram em 2018, enquanto 2019 foi marcado pela expansão nacional da solução.

A fintech tem 1.000 parceiros integradores e dezenas de milhões de reais em carteira de crédito originada. O tíquete médio por projeto fica entre R$ 20 mil e R$ 30 mil.

A Solfácil obtém o capital para esse financiamento por meio da emissão de debêntures. A fintech compra uma parte dessas debêntures e se monetiza por meio dos juros associados. Dentro dos papéis, também cobra uma taxa pela cobrança dos consumidores finais. Por fim, o financiamento tem uma taxa embutida e comunicada aos consumidores para cobrir a análise de crédito e os custos de operação.

O prazo de financiamento mais longo do que o tradicional permite que os consumidores reduzam o valor da parcela e vejam retornos econômicos mais imediatos.

A Solfácil também coloca como diferencial da fintech sua experiência em projetos de energia solar. Enquanto outras instituições financeiras olham apenas para a capacidade de pagamento dos tomadores de crédito, a fintech olha também para a capacidade técnica do projeto. O potencial de economia é a garantia de pagamento futuro. A menor inadimplência será revertida em menores taxas de juros e mais tomadores, ajudando na escala da Solfácil.

2020: pandemia, novo investimento e expansão

A Solfácil cresce entre 20% e 30% por mês. A fintech expandiu 50% em julho, o que Carrara credita a um início de retomada econômica.

O objetivo da fintech é financiar R$ 300 milhões nos próximos 12 meses. Na comparação entre 2019 e 2020, o volume originado deve ser multiplicado em 10 vezes. Em cinco anos, a meta é chegar a R$ 10 bilhões.

O crescimento da Solfácil será acelerado pela mais nova rodada de investimentos. A Solfácil captou R$ 21 milhões em um aporte liderado pelo Valor Capital Group e acompanhado pelos antigos investidores anjo da fintech. “Estamos animado em apoiar a Solfácil e o seu crescimento sustentável no Brasil, um dos mercados mais atrativos do mundo para energia solar e fintechs”, afirmou em comunicado Scott Sobel, sócio-fundador no Valor Capital Group. "Dada a experiência do time no setor e a resiliência do seu modelo de negócios, é uma oportunidade para reduzir o custo de energia para consumidores e empresas."

O dinheiro será direcionado primeiro para tecnologia: a plataforma de financiamento digital será mais automatizada para que a experiência dos tomadores seja mais simples. A Solfácil também expandirá de 1.000 para 5.000 parceiros integradores em energia solar. Carrara estima que existam 14 mil empresas do tipo no Brasil.

Por fim, a fintech criará novos produtos financeiros. A Solfácil atende apenas pessoas físicas, mas lançará uma linha para pequenas e médias empresas em setembro deste ano.

Essa demanda foi repassada pelos próprios parceiros integradores. Cada projeto teria um tíquete médio de R$ 100 mil e atenderia principalmente negócios que enfrentam altas contas de luz e teriam melhores economias com a energia solar. Exemplos são açougues, padarias e pousadas.

Outro plano é criar um financiamento especialmente para o segmento de agricultura. A fintech também fornecerá a opção de parceiros integradores fornecerem parcelamento de seis a doze meses sem juros ao consumidor final. A Solfácil assumirá a cobrança dessas parcelas, enquanto o estabelecimento recebe o valor do projeto imediatamente. É uma opção para estabelecimentos que precisam de fluxo de caixa. A energia solar está na mira de consumidores, empresas e de startups como a Solfácil.