05/12/14 14h36

Total estuda entrar em geração solar no Brasil

Valor Econômico

Os interesses do grupo francês Total no Brasil vão além do petróleo. A empresa, que é a segunda maior mundial na área de energia solar, com a sua filial americana SunPower, está de olho também nesse mercado no Brasil, onde poderá iniciar atividades nesse campo já a partir do próximo ano.

"Estamos avaliando o mercado brasileiro de energia solar e elaborando um plano de negócios", disse ao Valor Bernard Clément, diretor de operações do setor de novas energias da Total.

O grupo tem planos de atuar no Brasil em razão do tamanho e do potencial "muito interessante" do mercado de energia solar. "É provável que ele [mercado] seja significativo em termos de volume por muitos anos", afirma Clément.

Os projetos ainda estão em fase de estudo, mas a Total já prevê que poderá iniciar atividades no Brasil com painéis fotovoltaicos para residências e empresas. Isso não significa que o grupo tenha excluído atuar no mercado de parques solares no país, ressalta Clément.

A empresa não participou do último leilão governamental de energia solar, em outubro, por não considerar as condições satisfatórias. "Mesmo se hoje isso não é a prioridade, já no próximo ano poderíamos trabalhar em um projeto de central solar no Brasil", afirma o diretor.

Isso porque, diz o executivo, o ciclo de desenvolvimento de projetos na área solar é muito mais curto do que o de outras energias, o que também facilita a tomada de decisões.

O fato de as fábricas de painéis fotovoltaicos do grupo estarem operando atualmente em plena capacidade também leva a empresa a ser mais seletiva na escolha de novos projetos solares e concentrar esforços nos mercados onde já atua, como os Estados Unidos, Japão, China, alguns países da Europa, Austrália e ainda o Chile e África do Sul.

Uma nova fábrica de "células" (de cristais de silício) fotovoltaicas está sendo construída nas Filipinas. A unidade deve entrar em operação em 2015, o que permitirá a expansão das atividades nesse segmento.

A Total adotou a estratégia de desenvolver o setor de energias renováveis há cerca de sete anos. O grupo excluiu totalmente a atuação na área de energia eólica por considerá-la uma atividade "centralizada", ou seja, com recursos que não estariam disponíveis por toda parte, diferentemente do sol, e com altos custos de manutenção, sobretudo no caso de parques eólicos em alto mar.

A guinada do grupo no setor de energias renováveis ocorreu em 2011, com a compra de 65% do capital da americana SunPower por US$ 1,4 bilhão. Com faturamento de cerca de US$ 2,5 bilhões, a empresa é a única no mundo, afirma Clément, a atuar em toda a cadeia solar: da produção de células fotovoltaicas e construção de centrais à produção de energia elétrica, como já ocorre nos Estados Unidos. No Chile, o grupo finaliza a instalação de um parque solar onde possui participação e que venderá eletricidade no mercado "spot".

No início, as novas atividades de energia solar da Total não surtiram bons resultados. O grupo tomou um choque ao perder várias centenas de milhões de dólares nos dois anos seguintes à compra da SunPower. Motivo: a concorrência chinesa nos painéis fotovoltaicos, que dizimou inúmeras empresas do setor na Europa e nos Estados Unidos com seus preços imbatíveis.

Desde então, a SunPower se recuperou na bolsa (hoje a participação da Total vale cerca de US$ 2,4 bilhões - US$ 1 bilhão a mais do que o investimento inicial), apesar da guerra com os chineses ainda continuar. Um dos motivos para explicar a volta por cima é que os painéis da filial teriam melhor performance energética (com rendimento de 25% na conversão de eletricidade, enquanto os da concorrência se limitariam a 17%) e maior duração de vida.

Essa tecnologia seduziu o investidor americano Warren Buffet. Ele fez a cotação da

SunPower subir na bolsa ao adquirir, em 2013, por meio de uma de suas filiais, o controle da Solar Star, o maior parque solar do mundo, um projeto de 600 megawatt (mais de 1,7 milhões de painéis) construído pela SunPower no deserto da Califórnia e que deverá ser concluído em 2015. Outro feito da filial: ela também conseguiu vender painéis solares para os próprios chineses.

As atividades no campo da energia solar representam apenas 1% do faturamento global do grupo, de quase € 190 bilhões. Mas a Total está longe de minimizar esse desempenho: sua participação de 3% no mercado mundial de energia solar já representa o dobro da registrada globalmente no petróleo, segundo a companhia.

A tendência é de expansão: a Total prevê "forte" crescimento mundial do mercado de energia solar, de 10% a 15% ao ano, até o final da década. "A SunPower deverá triplicar de tamanho até 2020", prevê o diretor.

Os custos do setor estão caindo rapidamente graças aos progressos tecnológicos e deverão continuar diminuindo consideravelmente nos próximos anos, afirma Clément, número 2 da área de energias renováveis da Total. No caso dos painéis fotovoltaicos, por exemplo, eles já foram divididos por três nos últimos quatro anos.

"O setor de energia solar entrou em uma fase de industrialização", diz Clément. A energia fotovoltaica já é competitiva sem subvenções em cerca de uma dezena de países, incluindo o Chile.

Os números da Agência Internacional de Energia (AIE), com sede em Paris, também são promissores: a energia solar poderá representar cerca de um quarto da produção elétrica mundial em 2050. O preço da eletricidade produzida por painéis solares deverá cair 25% até 2020, diz o órgão. Pelo visto, o sol continuará brilhando nas atividades da Total.