23/01/15 14h15

Turismo de negócios traz R$ 11,3 bi para a economia da cidade

Valor Econômico

São Paulo não tem praias nem grandes cartões postais como o Corcovado ou o Pão de Açúcar. Mas tem o melhor ambiente de negócios do país e está entre as dez maiores cidades em turismo de negócios do mundo. Os números confirmam essa vocação: estima-se que São Paulo tenha mais de 90 mil eventos de negócios anualmente, o que representa 72% de todos os que são realizados no país.

Em 2014, a cidade recebeu 15 milhões de turistas, 11,4 milhões deles atraídos por negócios e eventos. No Rio, foram 9 milhões. O setor hoteleiro, como um todo, gerou cerca de R$ 600 milhões em impostos. Os dados são SPTuris, órgão da Prefeitura de São Paulo e da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo (Abih/SP).

"Em 2014, o turismo injetou na economia da cidade como um todo cerca de R$ 11,3 bilhões. Grande parte desse montante foi produzido graças à presença de 11,4 milhões de turistas que vêm a São Paulo motivados por negócios ou eventos. Esse é o nosso principal mercado", diz Wilson Poit, secretário municipal para assuntos de turismo e presidente da SPTuris

"Em 2014, o faturamento obtido exclusivamente com eventos corporativos, feiras e congressos atingiu R$ 2,3 milhões só em diárias de hotéis", diz Bruno Omori, presidente da Abih/São Paulo. A esse montante, ele acrescenta R$ 1,1 bilhão gastos com alimentos e bebidas, além de custos com equipamentos e venda de salas de convenção, somando R$ 3,4 bilhões. Esse valor não inclui gastos fora dos hotéis. "Isso significou um aumento ao redor de 2,5% sobre 2013 e a perspectiva para 2015 é crescer entre 1,5% e 3%, em geral", diz Omori.

O presidente da Abih-SP lembra que a capital paulista é o maior mercado hoteleiro da América Latina, com cerca de 430 hotéis e 110 mil leitos. Outros cinco hotéis, com 500 novos apartamentos, devem ficar prontos ainda este ano. "Temos uma previsão que nos próximos três anos chegaremos a mais 2,5 mil apartamentos em São Paulo", diz Omori. Segundo ele, hoje o setor gera 40 mil empregos diretos e 240 mil indiretos.

A qualificação da mão de obra é uma das frentes de atenção da indústria hoteleira. "Entre a mão de obra já qualificada, mais de 85% são formados em cursos de hotelaria, turismo, gastronomia e administração de empresas", diz Omori. "Todos os que ocupam postos de gerência e diretoria têm formação universitária completa, pós-graduação e até MBA. São top em níveis mundiais", afirma.

Para os cargos operacionais, há cursos técnicos feitos em parceria com Sebrae e Senac. "Formamos 2,7 mil profissionais operacionais do ramo entre 2011 e 2013 em parceria com o Ministério do Turismo e outras entidades, dos quais 75% em São Paulo. Também qualificamos 800 profissionais em parceria com o 'Sebrae empreendedores' nas áreas de gestão para as pequenas empresas, porque 75% da oferta do Brasil é de estabelecimentos de até 50 apartamentos e desse total 30% estão na capital paulista", conta Omori.

Segundo o secretário Poit, a busca pela excelência no atendimento - motivada também pela Copa do Mundo - fez com que a mão de obra fosse capacitada e as contratações crescessem. "A cidade de São Paulo possui uma grande infraestrutura voltada ao atendimento do turista de negócios, tanto por sua variada oferta de hotéis, espaços de eventos, bares e restaurantes, quanto pelo leque de opções de lazer e entretenimento", diz. "São viajantes exigentes e a cidade possui a mão-de-obra mais qualificada do Brasil para atendê-los."

De acordo com o Observatório de Turismo, órgão da SPTuris, o turista de negócios permanece na cidade cerca de três dias e gasta de R$ 500 a R$ 600 por dia. A hospedagem representa cerca de 55% dos gastos.

Para quem enxerga o turismo do lado de fora dos órgãos públicos e entidades do setor, São Paulo se mostra uma cidade criativa, cheia de boas surpresas, mas que também pode decepcionar.

Uma das boas ideias foi lançada pela São Paulo Turismo com o projeto chamado "Fique Mais um Dia", convidando o turista, que passa pela cidade correndo, prolongar um pouco a estadia. "Foi um

trabalho muito bem articulado que mostrou resultados na Copa do Mundo. Muitas pessoas que vieram para os jogos depois permaneciam um pouco em São Paulo", diz Luis Alberto Machado, professor da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), vice-diretor da faculdade de economia da Faap e especializado em economia criativa.

Na lista das dificuldades que afastam os turistas, Machado cita desde as calçadas intransitáveis - "com exceção da avenida Paulista" - até a qualidade e a capacidade dos centros de convenção. O Anhembi é um dos que já estão ultrapassados, ele diz. "Temos centros de convenção bons como o Transamérica, o Center Norte, mas o Anhembi é tímido e limitado quando se compara com o que tem surgido por aí em termos de espaços e equipamentos. O novo centro de convenções de Fortaleza, por exemplo, está muito acima do Anhembi em termos de instalação de som, facilidade de construção e uma série de outras coisas", afirma Machado.

André Coelho, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em turismo e projetos, chama a atenção para o que considera os três grandes pilares para o crescimento do turismo, aí incluído o turismo de eventos: a hospedagem, o acesso e recursos de alimentação. "São Paulo está muito bem posicionada em todos eles, mas cada um precisa de evolução", afirma. Na sua avaliação, "os hotéis são de boa qualidade, bem localizados, com área de alimentação no entorno mas, o que é mais importante é o acesso", no caso, os aeroportos.

"A cidade tem dois aeroportos que estão operando no limite de sua capacidade e isso, para eventos, é um fato importante", diz. Ele cita o caso de um visitante que participa de um evento que tem horário para chegar e que em seguida precisa tomar o voo de volta já reservado. "Além dos imprevistos nos voos, deslocar-se do local do evento para o aeroporto não é uma coisa muito simples", observa.

"O turismo de lazer é o que mais de destaca, mas o Brasil vem se posicionando muito bem em eventos tanto nacionais como internacionais. Estamos em crescimento, não só em quantidade, mas em qualidade e não apenas em São Paulo, mas Rio e outras cidades do Brasil", afirma.