21/11/13 16h16

Unicamp quer estrutura para atrair empresa

Correio Popular

Cinco companhias negociam com a universidade a instalação de centros de pesquisa

Cinco empresas que atuam em inovação tecnológica negociam com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a implantação de centros de pesquisas dentro do Parque Científico da instituição. Apesar do interesse de empresas — os nomes não foram divulgados por acordo de confidencialidade —, a universidade tem dificuldade em fechar contratos com grandes companhias porque não tem espaço para abrigá-las, embora seu parque tenha 100 mil metros quadrados de área. A reportagem apurou que entre as empresas interessadas estão a Chevron, que quer aproveitar o conhecimento da Unicamp na área de petróleo, mais especificamente em prospecção; a Pirelli, que pretende instalar um centro de tecnologia em pneus, e o Instituto Eldorado, que está no Polo Tecnológico 2 (Ciatec 2) e planeja ampliar suas atividades. O problema é falta de prédios para os laboratórios se instalarem.

Busca de recursos
Segundo o diretor do Parque Científico, Eduardo Gurgel, dois estão em construção. Um deles está destinado ao centro administrativo e à nova estrutura da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp), e terá ainda dois andares ocupados pelos laboratórios da Lenovo, que confirmou nesta semana a instalação do centro de pesquisa em Campinas. O outro será ocupado pelo Laboratório de Inovação em Biocombustíveis (LIB), que vai desenvolver projetos de processo de produção de biodiesel, etanol e bioquerosene.

Há um prédio, mais antigo, em frente do parque, onde estão os laboratórios da Samsung, que desenvolverão projetos de plataformas computacionais móveis — são projetos de pesquisa colaborativos em que a líder global em eletrônicos de consumo e convergência digital quer gerar inovações a serem incorporadas em seus futuros produtos. Gurgel disse que o parque vem buscando recursos junto aos governos estadual e federal para poder ampliar os espaços, mas não é tão fácil obtê-los diante da grande disputa que existe no País por essas verbas.

Construção
Um projeto foi inscrito em edital da Financiadora de Projetos (Finep) na tentativa de conseguir mais verbas. “A questão é que, entre a aprovação do recurso, a liberação e a construção, são três anos”, disse.

Outra forma de uma empresa levar seu centro de pesquisa para o Parque Científico é construindo as instalações, opção que a Cameron, a primeira empresa a fechar contrato com a Unicamp, adotou. As obras não começaram. A empresa norte-americana fornecedora de equipamentos e sistemas para escoamento de petróleo e gás pediu prorrogação no convênio e adiou o processo de instalar sua área de pesquisa em Campinas para o ano que vem.

“Estamos discutindo com o Estado uma política mais agressiva para povoar os parques tecnológicos de forma mais rápida, porque o modelo em que a empresa investe na construção do prédio não é o mais fácil. Precisamos ter a infraestrutura pronta e, se tivermos isso, os laboratórios de pesquisa de importantes empresas virão”, afirmou Gurgel.
O importante, disse, é o potencial que a Unicamp tem para atrair pesquisas e empresas inovadoras.

Grupos de pesquisa
Um trabalho de 2010 organizado por Gurgel e pelo pesquisador Domênico Feliciello mostrou que há 1.256 grupos de pesquisa atuando na região de Campinas, o que corresponde a 5,1% dos grupos existentes no Brasil. Mais da metade desses grupos são da Unicamp. São 9.616 pesquisadores, número que chega a 20.640 somados pesquisadores e estudantes.

Em Campinas estão instalados dois polos de tecnologia do Ciatec que administra ainda uma encubadora de empresas, há um parque privado, o Techno Park, e três parques tecnológico em implantação (um no CPqD, outro na Unicamp e outro no Centro Renato Archer). Há também duas outras encubadoras de empresas, o Incamp e o Softex.
O estudo identificou várias oportunidades e estratégias para a inovação na região.

Oportunidades
O primeiro deles é em redes e serviços de telecomunicações, como infraestrutura de redes (óptica, wireless), projetos de hardware (design house), serviço de software para rede de banda larga. Há muitas oportunidades em agrotecnologias, como melhoramento genético de plantas, equipamentos e serviços de engenharia agrícola, manejo avançado de cultura.

O estudo apontou oportunidades em tecnologias para a saúde, maquinaria e equipamentos especializados em automação industrial, eletrônica embarcada, material ferroviário, soluções para logística. Há também, na avaliação do grupo, perspectivas para o que chamam de eco-inovações, como novas tecnologias para controle da poluição, energias renováveis e para nanotecnologias.

Investimento
A Lenovo confirmou nesta quarta-feira (20) investimentos de cerca de US$ 100 milhões em um centro de pesquisa e desenvolvimento de software de última geração no Parque Científico da Unicamp. A escolha de Campinas para abrigar esse centro na área de software de servidores e ferramentas de automação para negócios globais, havia sido anunciado em agosto pelo prefeito Jonas Donizette (PSB). "Será a primeira grande âncora" , disse o diretor do parque, Eduardo Gurgel. Para o diretor da Inova, a agência de inovação da Unicamp, Milton Mori, a chegada da Lenovo vai alavancar o parque cientifico.

"Foi uma luta grande para trazer a Lenovo para Campinas, que também estudava se instalar na Universidade do Rio de Janeiro" , disse Mori. O centro de P&D em Campinas é o primeiro do gênero da Lenovo e irá focar em inovação de soluções de software de empresas e tecnologia de servidores high-end, armazenamento de dados e tecnologias em nuvem.

Soluções de software
O centro deverá ampliar bastante o portfólio global da Lenovo, fornecendo, ao mesmo tempo, soluções inovadoras de software, de alto valor e serviços para o mercado global.

"Os nossos recentes investimentos no Brasil estão sendo privilegiados com o centro de P&D. Esta iniciativa reforça a posição da Lenovo como uma empresa inovadora que investe localmente, criando empregos e tecnologia avançada," afirma Dan Stone, presidente da Lenovo Brasil.

Nos próximos anos, estima-se que a instalação terá a possibilidade de gerar 220 empregos para desenvolvimento de alto nível, respaldando tanto o Enterprise Product Group como a oferta de armazenamento da Lenovo - a LenovoEMC. As operações estão programadas para iniciar em Janeiro de 2014. A Lenovo pretende oferecer bolsas de estudo para equipes de pesquisa da universidade, conforme acordo com a Unicamp, que permitirá angariar novos talentos em desenvolvimento para ampliação do centro.

Nova fábrica
A implantação de um centro de pesquisa é parte dos investimentos que a empresa está fazendo no Brasil e que pretende atrair boa parte do mercado. Um desses investimentos está ocorrendo com a construção de uma unidade fabril em Itu, e com a compra da CCE em setembro do ano passado por R$ 300 milhões. Com a aquisição, Lenovo e CCE juntas passaram a ter 7% do mercado de PCs no Brasil e o plano da companhia e se tornar o maior fabricantes de PCs no País, superando a Positivo, atual líder no mercado, em três anos.

Os investimentos em Itu são da ordem de US$ 30 milhões, na construção de uma fábrica e de um centro de distribuição. A fábrica produz toda a linha de desktops e notebooks. No mês passado, a empresa anunciou a ampliação de seu parque, com a ocupação de um galpão de 20 mil metros quadrado, ao lado da atual fábrica.

Tanque de simulação
Um tanque de 30 metros de profundidade está sendo construído no Parque Científico da Unicamp para simular as condições próximas das encontradas no mar e assim servir de ferramenta para a análise de impactos dos sistemas marítimos sobre as estruturas utilizadas para trazer o petróleo da área do pré-sal até as plataformas. O tanque é parte do Laboratório de Sistemas Marítimos de Produções e Risers e será o primeiro do mundo em inovação.

A previsão é que o laboratório fique pronto até o final do ano, com recursos da Petrobras (R$ 6 milhões). Nele serão feitos experimentos para melhorar a tecnologia que impede que as longas e delgadas tubulações que levam o óleo e o gás do poço no fundo do mar até a plataforma, os chamados risers, se rompam devido a vibrações provocadas pelas correntezas submarinas, ou com o impacto no fundo do oceano.