24/01/13 08h50

Venda de relógios de luxo cresce 30% no Brasil

O Estado de S. Paulo

Com as vendas estagnadas nos países ricos, fabricantes apostam no aumento do número de milionários nos países emergentes para crescer

No pulso dos CEOs mais poderosos do mundo dos relógios de luxo, os ponteiros parecem sincronizados e indicam que a hora é de investir de forma pesada no Brasil. Com a explosão no número de milionários nos últimos anos, o País registrou a segunda expansão mais forte do mundo na venda de relógios de alta gama.

Dados divulgados nesta semana mostram que o aumento nas vendas no Brasil foi de 30,3% em 2012, taxa superada apenas pela explosão na demanda de relógios de luxo na Rússia, e mais de quatro vezes superior ao crescimento médio mundial. Os dados fazem parte do World Watch Report, informe que serve de termômetro do setor, formado por empresas com o hábito de não revelar números sobre suas vendas.

Assim como em todos os demais setores, a crise que já entra em seu quinto ano consecutivo nos países ricos fez a venda de relógios desabar nesses mercados. Mas os fabricantes sobrevivem graças ao fato de que, nos países emergentes, a nova classe de milionários está disposta a abrir seus bolsos para também adotar as marcas de luxo da Europa Ocidental.

Juntos, os Brics e os mercados asiáticos representam pela primeira vez 50% das vendas das grandes marcas de relógios, reunidas nesta semana em Genebra no Salão Internacional da Alta Relojoaria, o mais prestigioso do mundo.

Hoje, o mercado brasileiro já é maior que o da Arábia Saudita e equivalente ao da Índia ou Hong Kong. Segundo o levantamento, o Brasil está entre os doze maiores mercados do mundo. Ainda assim, representa apenas 1,2% das vendas globais. Mas a expansão de 30,3% superou o aumento de 27% na China e, para muitos, revela o potencial do mercado nacional.

As vendas no Brasil chegam a surpreender até mesmo os mais experientes CEOs do setor de luxo. Um deles é Angelo Bonati, que comanda a Panerai, uma das marcas mais badaladas e que abriu em São Paulo sua primeira loja no continente. "Desde que abrimos uma loja em Miami, vimos o interesse dos brasileiros pela marca. Fiquei muito surpreso", declarou. "Há seis meses, abrimos uma loja em São Paulo e o que vimos foi uma vez mais uma surpresa. Não achávamos que a loja nos daria um resultado tão importante e tão rápido."

Bonati evita fazer planos para o futuro. Mas não descarta que, se o ritmo de vendas continuar como o de 2012 - ele não revelou números -, não haveria porque não pensar em novos projetos, ainda que os impostos ainda sejam um obstáculo.

Quem também não esconde o entusiasmo com o Brasil é o CEO da Tag Heuer, Jean-Christophe Babin. Segundo ele, em apenas um ano, a empresa dobrou suas vendas no País. "O Brasil é um mercado impressionante", disse. "Nos últimos anos, a classe média-alta cresceu e quer fazer parte do mercado do luxo."

Até o ano passado, a marca era vendida na rede de lojas H. Stern. Mas, em novembro, a decisão foi de abrir uma loja própria no Shopping Cidade Jardim, na capital paulista. Babin garante que essa será apenas a primeira de uma série de quatro ou cinco lojas que serão abertas no País nos próximos anos. Outra decisão estratégica da Tag Heuer foi a de dobrar os investimentos em publicidade, justamente para se tornar mais presente.

Para todos, se o atual ritmo de vendas no Brasi for mantido, em menos de cinco anos o País vai superar o volume de venda de relógios na Suíça, origem de grande parte das marcas. "Observamos um forte desenvolvimento pela relojoaria de luxo nos países emergentes", declarou o diretor de estratégia do Digital Luxury Group (DLG), Florent Bondoux.

Segundo ele, os mercados emergentes garantiram um aumento de 7% nas vendas mundiais das marcas de luxo do setor. Entre as empresas, ninguém esconde que o foco é mesmo a China. Em 2012, 31% da demanda mundial por relógios veio de Pequim.

Pela primeira vez na história, a China superou o mercado americano como destino de relógios de luxo. Nos Estados Unidos, as vendas em 2012 representaram apenas 21% do total mundial, uma queda de 10,6% em apenas um ano.

No Japão, as vendas caíram 11,7% em 2012, enquanto o mercado sofreu também uma contração de 8,2% na Itália - um dos mercados mais tradicionais - e uma queda de 4,3% na Espanha. Nos demais países emergentes, o crescimento também é significativo. Na Índia, a alta em 2012 foi de 17,5% nas vendas.