08/02/10 10h25

Vinhos com identidade

Agência Fapesp

Depois de viver um auge nos anos 1960 e 1970, a produção de vinhos no Estado de São Paulo despencou em duas décadas. Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão ligado à Secretaria do Estado de Agricultura e Abastecimento, as safras de 2004/2005 não ultrapassaram duas toneladas, um abismo se comparado ao patamar de 12 toneladas das safras de 1984/1985. Aliado à queda de produção, São Paulo amargou também durante esse período a fama de não produzir vinho de qualidade. Para tentar mudar esse quadro, um estudo envolvendo pesquisadores de várias instituições realizou um amplo diagnóstico para elencar os principais problemas e potencialidades na cadeia de produção do vinho no Estado.

O projeto "Revitalização da cadeia vitivinícola paulista: competitividade, governança e sustentabilidade" teve apoio da FAPESP na modalidade Programa de Pesquisa em Políticas Públicas. De acordo com Adriana Renata Verdi, pesquisadora do IEA e coordenadora do projeto, o estudo mapeou os quatro principais municípios paulistas produtores de uva e vinho: Jarinu, Jundiaí, São Miguel Arcanjo e São Roque. Além do censo vitivinícola, o projeto realizou avaliação microbiológica e química dos vinhos produzidos por pequenos vinicultores paulistas e desenvolveu avaliação do comportamento edafo-climático de doze variedades de uvas para vinho.

Dividido em três fases, com duração total de três anos, o projeto definiu, na primeira etapa, os elos básicos da cadeia produtiva, com identificação dos agentes envolvidos, formação de equipes, questionários e realização de workshop. "A segunda fase - que foi a pesquisa propriamente dita e que durou dois anos - envolveu trabalho de campo para formar um banco de dados único. Para análise, utilizamos entrevistas e montamos um perfil por região. O início foi bem difícil porque cada instituição tinha um cadastro próprio, com números diferentes e defasados", disse Adriana à Agência FAPESP.

O censo é o mais abrangente do gênero já realizado até hoje no Estado. Os pesquisadores identificaram 945 viticultores nos quatro municípios. Foram entrevistados 284 produtores de uva em Jundiaí, 61 em Jarinu e oito em São Roque. Em São Miguel do Arcanjo, onde há o maior número de produtores de uva, foram identificados 592. "O município de São Miguel do Arcanjo e os municípios vizinhos de Pilar do Sul e Capão Bonito constituem uma região vinícola em expansão de grande potencial para o setor no Estado de São Paulo. O menor valor da terra serve como fator de estímulo para o deslocamento de muitos produtores de outros municípios paulistas, por exemplo, e de outros Estados. Muitos vêm do norte do Paraná", contou.

O questionário permitiu fornecer informações para o reconhecimento dos demais elos da cadeia. "No caso da uva, temos insumos, embalagem e assistência técnica. E, no caso do vinho, embalagem, rótulo e equipamentos. O processo fecha com a comercialização, como para onde vai esse produto ou quais os canais utilizados. Estamos montando essa cadeia e analisando as informações", explicou. Outro dado diz respeito ao produtor, com o desenvolvimento de atividades não agrícolas, como a associação da uva e do vinho com o turismo. "Eles tentam aumentar a renda ao desenvolver o turismo rural como atividade complementar com visitação à área de uva, como à área do vinho. Mas é um turismo de um dia e a falta de infraestrutura tem atrapalhado o desenvolvimento dessa atividade", disse.